Título: Berzoini prefere Pont no 2.º turno como adversário
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A13

Em nova ofensiva para atrair os votos da esquerda petista, o deputado Ricardo Berzoini (SP), candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, reforçou ontem as cobranças ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O PT deve contribuir para puxar o governo para a esquerda", afirmou ele na saída do plenário, onde ocupou a tribuna pouco antes da renúncia do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para agradecer aos filiados do partido pelo comparecimento às urnas. Berzoini disse que, sob nova direção, o PT insistirá com Lula para que haja uma inflexão na política econômica. "A solidez dessa política se revela na crise. Mas é preciso ampliar o caráter social do governo", observou, em discurso sob medida para enfrentar a união dos candidatos de esquerda no segundo turno da eleição, marcada para 9 de outubro. Além de juros mais baixos e menor superávit primário, o partido deve cobrar, na opinião de Berzoini, um salário mínimo mais justo e investimentos nos programas sociais. "A agenda política do PT não pode ser a mesma do governo", constatou o deputado.

Embora o discurso oficial seja de indiferença, na prática o Campo Majoritário torce para que o desafiante de Berzoini no segundo turno seja o deputado estadual gaúcho Raul Pont, e não Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, hoje um dos vice-presidentes do partido. Até a noite de ontem, a disputa sobre quem passaria para o segundo round ainda estava embolada, já que apenas 1.118 votos separavam Pomar de Pont.

A preferência do Campo Majoritário por Pont tem motivo: o ex-prefeito de Porto Alegre é integrante da Democracia Socialista, facção de esquerda que abriga o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e tem outros cargos. "Pont não quer mudanças drásticas no governo como o Pomar", argumentou um colaborador do presidente Lula. "Ele pode se compor conosco."

Aliados de Berzoini avaliam que, com Pomar no páreo, o embate fica mais acirrado porque a ala comandada pelo vereador Arselino Tatto (SP) transfere cerca de 5 mil votos para o candidato da Articulação de Esquerda na capital paulista. Não é só: para muitos dirigentes do PT, o grupo do deputado José Dirceu (SP), sentindo-se abandonado por Berzoini, estaria agora descarregando votos em Pomar.

BAIXA: O deputado João Alfredo (CE), da Democracia Socialista, pediu desfiliação do PT. Depois de 25 anos de militância, ele anunciou a saída em carta na qual diz que o PT está mergulhado "numa crise insuperável" . João Alfredo , que foi para o PSOL, observou que o processo de "burocratização autoritária" levou a direção petista a usar os métodos mais condenáveis da prática política. Com sua saída, a bancada do PT fica com 88 deputados. Outros cinco ameaçam deixar a legenda até o fim do mês. Se isso ocorrer, a bancada perderá o posto de maior da Câmara para o PMDB.