Título: Delegado teria oferecido vantagem a doleiro
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Nacional, p. A14

Escuta telefônica de posse da Justiça Federal revela detalhes de uma conversa do doleiro Vivaldo Alves, o Birigüi, com outro doleiro, não identificado. A ligação ocorreu no dia 11 de julho, às 13h35, e durou 28 minutos e 9 segundos. Birigüi fala dos depoimentos à PF, do ex-prefeito Paulo Maluf e também de supostas promessas que lhe teriam sido feitas pelo delegado Protógenes Queiroz, que presidiu o inquérito sobre a conta Chanani. Queiroz não foi localizado para falar sobre a escuta. Para a defesa de Maluf a gravação mostra que o doleiro teria sido pressionado pela PF para incriminar o ex-prefeito e Flávio. "À determinada altura eu falei ó...eles acabaram com meu negócio lá no shopping. Sabe o que o delegado falou pra mim? Pode fazer o teu negócio, ninguém vai te incomodar. Falou isso. Tô te falando sério. Juro pelas minhas filhas."

"Do delegado, ele terminou dizendo pra mim: 'Olha, no final disso tudo eu vou te dar um presente, entendeu'. Eu falei, mas é material? Ele falou: 'Lógico que não.' Entendi que ele vai me aliviar no inquérito. Foi isso que entendi. Não sei."

O amigo de Birigüi pergunta se o delegado "deixou telefone pra contato, porque pode ser um cara que pode te ajudar". Birigüi respondeu que sim: "Mesmo tendo demorado 7 horas, tanto dos procuradores como dele fui muito bem tratado."

Birigüi disse: "A coisa é bem outra. Porque a hora que ele percebeu que eu ia falar...Mas isso ele já percebeu de cara. A coisa mudou. Não fui pressionado pelos procuradores, sabiam que estava ali fazendo uma coisa que não era minha. Eles precisavam exatamente de um trunfo ou de uma coisa para chegar onde eles querem. Você não imagina o que eles têm no papel."

"Não houve pressão, de forma alguma", reagiu o promotor de Justiça Silvio Marques. Ele destacou que o delegado Protógenes não ofereceu presente ao doleiro. "Isso não é verdade, ele (delegado) se referia ao fato de não pedir a prisão do Birigüi por sua colaboração efetiva na investigação. O trabalho do Protógenes é sério, acima de qualquer suspeita."

O promotor disse que acompanhou o depoimento do doleiro ao lado do procurador da República Pedro Barbosa Pereira Neto. "Também estava lá o advogado do Birigüi, dr. Frederico Bauer. O procurador Pedro foi muito claro, disse ao Birigüi que não teria como excluí-lo da denúncia à Justiça." Há duas semanas, Pedro Barbosa denunciou os Maluf e também o doleiro, que está sendo processado e só terá algum benefício se colaborar em juízo.

Marques lembrou que o delegado disse a Birigüi que poderia continuar trabalhando (ele tem casa de câmbio) desde que autorizado pelo Banco Central. "Se o sr. estiver agindo dentro da lei pode continuar", anotou o delegado.