Título: Disputa acirrada no Banco Santos
Autor: Daniel Hessel Teich
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Decretada a falência do Banco Santos, os credores da instituição se prepararam para iniciar uma corrida para habilitar seus créditos e embarcar numa agressiva negociação para recuperar as perdas. Ao mesmo tempo, já esperam concorrer com processos milionários de indenizações trabalhistas impetrados por funcionários do banco. ¿Será uma briga feia, principalmente em torno das operações bate-e-volta¿, afirma um representante de credores de grosso calibre do banco, se referindo aos empréstimos condicionados ao investimento em outras empresas do grupo. ¿O administrador judicial terá que ser duro nessas negociações.¿

Já é praticamente consenso entre os representantes dos credores que seus clientes terão que fazer muitas concessões no processo de negociação. Com a falência, os credores esperam finalmente tomar pé da real situação em que se encontrava o banco de Edemar Cid Ferreira.

Na liquidação extrajudicial, decretada em maio, o Banco Central avaliou o rombo em R$ 2,236 bilhões, sem contar prejuízos causados a fundos de investimento e ao BNDES, estimados em cerca de R$ 700 milhões pelo promotor de falências Alberto Camiña Moreira.

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o interventor e agora administrador nomeado pela justiça, Vânio de Aguiar, admitiu que o calote será grande. Segundo ele, só 10% do passivo deverão ser recuperados.

Independentemente da disputa entre credores, a imagem do Banco Santos começa a ser definitivamente apagada. A construtora JHSF, dona do luxuoso prédio onde funcionava a sede do banco em São Paulo, decidiu acabar de vez com os vínculos entre o imóvel e o antigo ocupante. Mandou instalar uma placa gigantesca com o novo nome do prédio, rebatizado de Edifício Nações, para que não sobre a menor dúvida de que Edemar não reina mais por lá.

Ontem, caminhões retiravam os últimos móveis e utensílios vendidos em leilão, para entrega definitiva do imóvel. O valor do aluguel mensal pedido pela incorporadora é de R$ 900 mil, caso o interessado queira ficar com o prédio inteiro. Mas também se aceita negociar o aluguel dos andares isoladamente.

A Justiça estuda meios de conseguir pôr as mãos em dois outros símbolos da antiga opulência do banco: a mansão construída por Edemar no Morumbi e sua coleção de obras de arte, que, juntas, valem perto de R$ 80 milhões. Tarefa que, avalia-se, não será fácil. Ambas estão em nome de empresas com sede em paraísos fiscais.