Título: Remessa de lucros reduz saldo externo
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

As remessas de lucros e dividendos de companhias estrangeiras cresceram e puxaram para baixo o resultado das trocas de bens e de serviços do Brasil com o exterior em agosto. O País teve um superávit em contas correntes de US$ 822 milhões, cifra mais magra que os US$ 2,592 bilhões de julho. O resultado não foi pior porque a balança comercial colaborou com um saldo positivo de US$ 3,671 bilhões. Apesar desse movimento menos satisfatório em agosto, o Banco Central (BC) reviu para cima suas projeções para as contas externas em 2005. Até o mês passado, o BC trabalhava com a estimativa, já defasada, de superávit de US$ 4 bilhões. A nova previsão é de US$ 9,4 bilhões.

Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, as remessas de lucros e dividendos chegaram a US$ 1,087 bilhão, em comparação com apenas US$ 492 milhões em agosto de 2004. O aumento, segundo ele, decorreu do crescimento da rentabilidade das companhias instaladas no País.

De janeiro a agosto, as remessas alcançaram US$ 7,886 bilhões, o que levou o BC a também rever a estimativa desse item de US$ 9 bilhões para US$ 10 bilhões no ano. Em setembro, o ritmo de remessas está menos intenso. Até ontem, era de US$ 249 milhões.

A conta de serviços também contribuiu com o resultado positivo magro das transações correntes. Mas não houve sustos nem reversão de tendências. Em agosto, essa conta fechou com déficit de 787 milhões, com o peso do aumento dos gastos de brasileiros em viagem no exterior, de US$ 103 milhões ¿ o maior volume desde agosto de 2001.

Os gastos com viagens deverão alcançar US$ 800 milhões no ano, segundo Lopes.

Também contribuíram o pagamento de royalties e licenças (US$ 120 milhões) e o aluguel de equipamentos usados em plantas produtivas (US$ 359 milhões). De janeiro a agosto, o saldo negativo da conta de serviços alcançou US$ 4,974 bilhões.

O desempenho positivo das exportações e o crescimento das importações aquém do previsto, porém, contrabalançaram essas perdas nas contas externas de agosto ¿ e continuarão a contribuir em setembro.

Somado ao fato de não haver concentração de pagamentos de despesas com juros ao exterior neste mês, a balança comercial tornará possível um superávit de cerca de US$ 2,5 bilhões nas transações correntes do Brasil com o exterior em setembro, nos cálculos de Lopes. Até o dia 19, o superávit comercial alcançava US$ 5,4 bilhões.

INVESTIMENTOS

Em agosto, os investimentos estrangeiros diretos (IED) no setor produtivo mantiveram a tendência prevista pelo Banco Central, que registrou uma entrada líquida de US$ 1,143 bilhão. Mas, em setembro, o fluxo deverá minguar para apenas US$ 300 milhões. De acordo com Lopes, duas operações de venda de participações de bancos estrangeiros em instituições brasileiras ¿ e a conseqüente remessa dos recursos ao exterior ¿ vão interferir no desempenho dos investimentos diretos neste mês.

Até ontem, o saldo líquido dos investimentos diretos em, setembro era de apenas US$ 100 milhões ¿ US$ 900 milhões de ingressos de capital para o setor produtivo ante US$ 800 milhões repatriados. Lopes destacou que não há influência da crise política nesses números. ¿Esse movimento decorreu de uma decisão de estratégia empresarial. Do ponto de vista dos números, não considero que a crise tenha tido qualquer reflexo nas contas externas.¿

De janeiro a agosto, o ingresso líquido de investimentos foi de US$ 11,744 bilhões, fator que levou o BC a manter sua projeção de US$ 16 bilhões para este ano ¿ 12,08% menos do que os US$ 18,2 bilhões de 2004.