Título: Otimismo reduz risco de emergentes
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

Os países emergentes ganharam novo fôlego com o bom momento do mercado internacional e viram seus índices de risco despencarem com a abundante liquidez do cenário externo. Segundo relatório elaborado pela Mellon Global Investments, os indicadores de risco dessas nações têm atingido o menor nível da história. No Brasil, o risco país ¿ que reflete a confiança do investidor estrangeiro em relação à economia local ¿ é o menor desde outubro de 1997. Nos negócios de ontem, caiu 1,09%, para 363 pontos, influenciado especialmente pelos boatos de uma possível melhora na classificação do risco de crédito do País, apesar da turbulência política.

Na avaliação da economista-chefe da Mellon Global, Solange Srour Chachamovitz, as condições do cenário externo poucas vezes estiveram tão favoráveis aos países emergentes como agora. Com a taxa de juros dos países desenvolvidos em níveis reduzidos, os investidores voltaram suas atenções para os emergentes, cuja rentabilidade é bem maior e o risco está cada vez menor.

De acordo com o relatório, o fluxo líquido de capitais privados para estes países em 2003 e 2004 foi o dobro da média dos dois anos anteriores, ficando um pouco abaixo do maior nível da série, alcançado em 1996 e 1997. Além disso, os emergentes experimentaram crescimento robusto nos últimos dois anos: médias de 5%, em 2003, e de 6%, em 2004.

Diante de condições tão favoráveis, os emergentes estão reduzindo a parcela de dívida atrelada à moeda estrangeira para antecipar o pagamento de suas obrigações e elevar o nível de reservas internacionais, diz Solange. Exemplo disso foi a primeira emissão em reais do Brasil no exterior, fechada no início desta semana, com vencimento em 2016. O volume captado foi de US$ 1,5 bilhão, mas a demanda ficou bem acima desse valor.

Além das boas condições internacionais, o Brasil conta com fundamentos econômicos sólidos, que têm garantido o interesse dos investidores. ¿O superávit de conta corrente pode chegar a US$ 14 bilhões, o investimento direto está retornando, a inflação foi controlada e os juros estão em queda¿, resume o economista do BankBoston, Marcelo Cypriano. Segundo ele, a queda do risco é um reflexo dessa conjuntura.

Para Solange, no entanto, o indicador poderia ter caído muito mais nos últimos meses, não fosse pela vulnerabilidade fiscal. Em um ano, o risco recuou 21,6%. De acordo com o relatório, na maioria dos indicadores, a situação do Brasil é melhor que a de alguns países emergentes ¿investment grade¿ (grau de investimentos), considerados seguros. ¿Mas, para certos indicadores, ainda estamos entre os países mais vulneráveis¿, avalia ela.

Segundo a economista, o País tem conseguido elevados superávits primários e a redução significativa da exposição da dívida a variações cambiais. Mas isso foi conseguido graças ao aumento da carga tributária, que passou de 29,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para 36%, entre 1998 e 2004.

Um ponto negativo para o País conseguir melhor nota das agências de classificação de risco é o estoque elevado de dívida pública em relação ao PIB. Segundo o relatório, esse indicador passou de 42%, em 1998, para 51,67%, em 2004.