Título: Fundo reduz previsão de expansão mundial
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

A economia global vai crescer 4,3% neste ano e no próximo, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI). A expansão será menor que a do ano passado, 5,1%, mas ainda robusta pelos padrões históricos. Mas os motivos de preocupação aumentaram nos últimos meses, disse o economista-chefe do FMI, o indiano Raghuram Rajan, ao apresentar o relatório Perspectivas da Economia Mundial, publicado em abril e setembro.

Os principais fatores de risco são a excessiva dependência do consumo, especialmente nos Estados Unidos, o elevado preço dos imóveis e de outros ativos e a instabilidade das cotações do petróleo. Os autores do estudo estimam em US$ 54,23 o preço médio do óleo neste ano e em US$ 61,75 no próximo, com aumento de 13,9%.

A projeção do crescimento mundial para este ano é a mesma de abril. A estimativa para 2006 caiu 0,1 ponto. O maior pessimismo é em relação às economias mais avançadas.

No caso dos Estados Unidos, as taxas de expansão previstas, 3,5% em 2005 e 3,3% no próximo ano, encolheram 0,2 e 0,3 ponto. A erosão dos salários pela inflação, a alta dos juros e a menor elevação dos preços dos imóveis ¿ com redução do efeito riqueza ¿ deverão conter o consumo.

A Europa deve continuar em marcha lenta, com expansão de 1,2% e 1,8% em 2005 e 2006 na zona do euro. A demanda interna pode manter o impulso da recuperação japonesa, com crescimento de 2% neste no próximo ano. A China fica como grande locomotiva, com o PIB aumentando 9% e 8,2% no biênio.

O comércio global permanecerá vigoroso, embora com crescimento inferior aos 10,3% de 2004. Para este ano e para 2006, os economistas do FMI estimam expansão de 7% e 7,4% para o volume de intercâmbio de bens e serviços.

As cotações do petróleo deverão subir, na média, 13,9%. Os preços das demais commodities cairão, na média, 2,1%, afetando a maioria dos países latino-americanos, que manterão o crescimento, embora em ritmo menor.

Contrariando uma opinião corrente, os economistas do FMI afirmam que há falta de investimento e não excesso de poupança na economia mundial, especialmente nos países mais avançados.

O mundo poupa e investe menos do que há 30 anos, diz o relatório. Será preciso, disse Raghuram Rajan, buscar uma transição suave do excesso de consumo para o investimento. Será também preciso reduzir os desequilíbrios nas contas externas.

As duas transições envolvem perigo. O comércio internacional e os grandes fluxos de capitais permitiram manter, por muito tempo, de grandes desequilíbrios e as correções serão dolorosas e demoradas.

A demanda internacional tem sido sustentada principalmente por umas poucas economias de grande porte, graças a ¿estímulos fiscais insustentáveis, assim como pelos preços dos imóveis, que ignoram a lei da gravidade¿, observou o economista-chefe do FMI.