Título: Crise é ameaça ao Brasil, diz FMI
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

As incertezas políticas e o preço do petróleo aumentam os riscos econômicos do Brasil, segundo o relatório sobre a Perspectiva Econômica Mundial distribuído ontem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Pela primeira vez, os técnicos do Fundo admitiram, no documento, que a crise política possa afetar o desempenho da economia, contrabalançando os recentes sinais de maior atividade. Mas o cenário permanece positivo, com previsão de crescimento de 3,3% neste ano e de 3,5% no próximo.

A expansão projetada para o Brasil em 2005 era de 3,7% no relatório divulgado em abril, na reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial (Bird). O número foi revisto depois de conhecidos os dados do primeiro trimestre. A projeção para 2006 é inferior à divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 4%.

Neste e no próximo ano o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve expandir-se menos que o da maioria dos países sul-americanos, segundo o FMI. A economia argentina deve crescer 7,5% em 2005 e 4,2% em 2006; a uruguaia, 6% e 4%; a chilena, 5,9% e 5,8% e a dos países do Grupo Andino, 5,1% e 4,1% em média. A inflação brasileira subiu no começo do ano, mas voltou a cair e agora está próxima da meta oficial, de 5,1%. Segundo o relatório, a evolução das contas públicas permanece favorável, com resultados acima da meta, e ¿manter o aperto será decisivo para reduzir a relação entre a dívida e o PIB¿. Será preciso conciliar, ainda de acordo com o documento, as despesas com programas sociais e de infra-estrutura e a manutenção de grandes superávits primários para pagamento de juros. Para isso, será preciso diminuir a rigidez do orçamento e gastar com maior eficiência, aconselham os autores do relatório. A reforma do orçamento está na pauta do Ministério da Fazenda há mais de um ano. Um dos objetivos é eliminar ou reduzir a parcela de verbas carimbadas para tornar o orçamento menos engessado.Verbas vinculadas criam inércia e não garantem a qualidade dos gastos com educação ou saúde, por exemplo, e dificultam o planejamento, segundo os críticos.Mas a resistência política à mudança é poderosa. A atual expansão latino-americana pode ser mais duradoura que as anteriores, segundo o relatório. O crescimento do PIB regional, de 5,6% em 2004, deve diminuir para 4,1% neste ano e 3,8% no próximo, entrando num ritmo sustentável. O risco de um freio imposto pela redução do financiamento internacional é menor do que nos ciclos anteriores. O crescimento tem sido puxado em grande parte pela exportação, com vendas para mercados mais diversificados e melhora das relações de troca. Em 2005 e 2006, a América Latina e o Caribe terão superávit em conta corrente superior a 0,5% do PIB. Em episódios anteriores, a expansão econômica foi alimentada principalmente pelo ingresso de capitais estrangeiros e pela demanda interna provocada pelo excesso de gastos públicos. As aventuras terminaram em crises de balanço de pagamentos e explosões de inflação. A adoção de políticas de meta de inflação por Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru é citada no relatório como mudança positiva. No curto prazo, segundo o estudo, as economias latino-americanas estarão sujeitas a riscos com a alta do petróleo e dos juros internacionais e queda de preços das demais commodities, em razão do crescimento menor das economias mais avançadas.