Título: Delegacia no Rio vai sofrer devassa, diz PF
Autor: Clarissa Thomé
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Metrópole, p. C1

A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) do Rio passará por uma "correição extraordinária". Quinze policiais - sete deles delegados - de Brasília estão no Rio para fazer uma devassa nos inquéritos em curso na delegacia e em todos os bens apreendidos. A superintendência já está submetida à correição extraordinária. O superintendente em exercício da PF, Roberto Prel, disse que a intenção da devassa é deixar a delegacia "às claras" e "colher dados específicos que tragam suporte para a investigação" do roubo de R$ 2,1 milhões, ocorrido no fim de semana.

Prel recebeu nesta semana outra equipe de Brasília enviada pelo diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, para investigar o roubo. Ontem, o próprio Lacerda chegou ao Rio, onde fica até segunda-feira. Prel negou que esteja sofrendo uma intervenção branca. "É uma ajuda. O Departamento de Polícia Federal é único. Como nós ajudamos nas investigações da Operação Caravelas, agora é o momento em que outros Estados estão nos ajudando."

Rodrigo Palinhos, filho do empresário José Antônio Palinhos Jorge Pereira, entregou-se ontem à PF em Goiânia. Pai e filho estão presos na Superintendência da PF de Goiás, com outras nove pessoas acusadas de envolvimento com a quadrilha internacional que traficava cocaína escondida em pedaços de carne congelada.

Segundo a PF, foram abertas empresas e restaurantes no nome de Rodrigo Palinhos, que seriam usadas para lavagem de dinheiro do tráfico. O pai de Rodrigo é apontado pela polícia como verdadeiro dono dos restaurantes Capricciosa e Satyricon, no Rio, e principal financiador da quadrilha. A PF do Rio mandou para Goiânia documentos apreendidos na casa dos acusados. Os carros de luxo apreendidos na cidade foram levados para Brasília.

A PF ainda busca outros cinco acusados de integrar a quadrilha. São eles Antônio Palinhos Jorge Pereira, irmão de José Palinhos, Luís Carlos da Rocha, apontado como um dos chefes do bando, Jorge Manoel Neto Chagas, acusado de cuidar da logística do envio da droga para o exterior em peças de carne, e os despachantes aduaneiros Luís Manoel Neto Chagas e Manoel Horácio Kleiman.

INVESTIGAÇÃO

As primeiras informações levantadas pela Inteligência da Polícia Federal em Brasília sobre a superintendência no Rio são desanimadoras. A corrupção e o envolvimento de policiais com o crime organizado chegou a níveis críticos, a ponto de policiais honestos viverem sob o risco de armações de colegas delinqüentes.

"Quando o bandido está dentro, não há esquema de segurança eficiente", disse um delegado que participa da investigação do roubo de R$ 2,1 milhões. Somam-se a isso problemas físicos e estruturais da sede da PF, a única que trabalha com Ricardões (bonecos imitando policiais), um recurso obsoleto. Entre as grandes superintendências, a do Rio é a única que não usa crachás de identificação com leitura digital e as pessoas são identificadas precariamente na portaria. São freqüentes os casos de roubos dentro do prédio. Pelo roubo, 59 policiais foram afastados.