Título: Visto para o México causa corrida em Minas
Autor: Eduardo Kattah
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Metrópole, p. C4

Um mês antes de entrar em vigor, a decisão do governo mexicano de exigir visto de brasileiros está provocando uma corrida entre coiotes (agenciadores de emigrantes ilegais) de Governador Valadares. As quadrilhas que usam o México como porta de entrada para os Estados Unidos querem aproveitar o período até 23 de outubro, quando entra em vigor a exigência. Os coiotes são responsáveis por boa parte das 300 passagens vendidas por mês em Valadares com destino ao México. As agências de turismo já registraram aumento nas vendas e estimam que ele possa chegar a 40% nesses 30 dias. A região de Valadares, no leste de Minas, é o maior pólo de emigrantes brasileiros para os Estados Unidos. Para a Polícia Federal e autoridades locais, a exigência do visto não deverá inibir a atuação dos coiotes, também chamados de cônsules na região. Mas deverá aumentar os preços cobrados pelas quadrilhas. Normalmente, os brasileiros pagam entre US$ 10 mil e US$ 11 mil para entrar clandestinamente nos EUA pela fronteira com o México.

O delegado regional da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Francisco Luiz Teixeira, acredita que a medida do governo mexicano será inócua. "É uma bomba de efeito retardado", disse, referindo-se ao aumento das vendas nas 40 agências de turismo de Valadares.

Para a PF, outro reflexo da exigência do visto para o México deverá ser o aumento da falsificação de documentos e a busca por outros destinos de emigração clandestina, principalmente a Europa. "O marginal geralmente procura alternativas para cometer crimes. Principalmente quem vive disso", disse o delegado da PF em Valadares, Antônio Vieira Rosa. "Aqui o pessoal falsifica tudo. Eles conseguiram falsificar até vistos americanos."

Desempregado e com um tio e um primo morando há dois anos nos EUA, F.D.L., de 22 anos, esteve na semana passada em uma agência de viagens de Valadares para se informar sobre o trâmite que será necessário para obter um visto de entrada no México. Ele pretendia viajar só no ano que vem para entrar clandestinamente nos EUA. Quando soube das novas exigências, decidiu antecipar a viagem e já procurou um coiote. Sem o dinheiro necessário, disse que acertou o financiamento do valor cobrado - US$ 10 mil. O parcelamento virou prática comum entre coiotes, que depois cobram a dívida de parentes de emigrantes.

"O jeito é conseguir entrar e trabalhar lá para pagar a dívida", diz F.D.L., que diz não temer os riscos da travessia do deserto. "Como ter medo se você é testemunha de que um parente vai para lá e fica rico?"

A influência da emigração para os EUA na atividade econômica de Valadares é evidente. Estima-se que pelo menos 40 mil valadarenses vivam hoje em cidades americanas. Eles sustentam economicamente o município mineiro. Cálculos não oficiais indicam que os emigrantes enviam por ano a seus parentes em Minas entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões - o que levou a cidade a receber o apelido de Valadólares.

Diante da importância econômica da emigração, a decisão do México provocou críticas de autoridades. "A gente recebeu essa notícia com preocupação", disse o secretário de Governo, Darly Alves. "Entendemos que foi uma retaliação dos EUA. Os valadarenses migram também para prestar um serviço ao povo americano."