Título: Jovens gestantes lutam pelo direito de ficar na escola
Autor: Roberta Pennafort
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Vida&, p. A15

Constrangidas e descriminadas, 34% delas param de estudar, segundo estudo no Rio

Stephane Moreira da Silva tem 15 anos e está no oitavo mês de gestação. Ela sabia que poderia engravidar se tivesse relações sexuais com o namorado sem se prevenir, mas arriscou. Agora, a garota teme pelo futuro. Stephane abandonou a escola, com vergonha dos professores e colegas, e prevê que terá dificuldades para arrumar um emprego que garanta o sustento do filho. "Vai ser muito difícil. Não tenho idéia do que vai ser daqui para frente." A menina pobre, de uma comunidade em Vila Kennedy, zona oeste do Rio, conta a história de muitas outras que procuram o Centro de Atendimento à Mulher Adolescente (Ceama) do Hospital Pedro II, única unidade da rede pública estadual que oferece atendimento pré-natal voltado para jovens gestantes.

Dados de um relatório produzido pelo coordenador do centro, o obstreta Moysés Rechtman, referentes aos atendimentos prestados a 1.984 gestantes de abril de 2001 a agosto de 2005, mostram que 34% delas pararam de estudar. Durante a gravidez, as pacientes deixam de ir ao colégio por se sentirem constrangidas e, após o nascimento, por não ter quem cuide de seus bebês.

Os dados revelam ainda que a grande maioria das adolescentes assistidas (79%) tem entre 15 e 19 anos. As que têm de 10 a 14 anos correspondem a 11% dos atendimentos e de 20 anos ou mais, 10%. "A maior parte (77%) tem conhecimento sobre camisinha e pílula e metade até diz que utiliza, mas acaba engravidando por usar de forma errada", explica Rechtman. "Quando se tornam mães, essas garotas, que têm baixa auto-estima, ganham um status diferente nas comunidades, chamam atenção para si. A escola fica para trás."

Um projeto da Viva Rio busca evitar a evasão escolar dessas jovens. Agentes da ONG fazem a intermediação entre 285 garotas atendidas por eles e as escolas para que elas continuem a estudar durante a gravidez e que, depois, possam levar os filhos para as salas de aula. Nem sempre é simples convencer os diretores, apesar de não haver uma norma das secretarias de Educação que proíba a entrada de alunas com bebês.

Jociane Rosa da Silva, de 16 anos, mãe de Maria Eduarda, de 6 meses, diz que as jovens são descriminadas por professores, colegas, porteiros e até motoristas de ônibus, que não permitem que elas viajem sem pagar quando não estão vestindo o uniforme escolar. Mas ela enfrentou tudo isso, e freqüentou as aulas até o 7.º mês de gestação. "Eu dava o peito na sala mesmo, na frente de todo mundo. Meus colegas brincavam com a neném para ela parar de chorar. Mas era difícil prestar atenção no professor."