Título: MST invade e incendeia instalações de usina em PE
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A10

Cerca de 300 sem-terra quebraram grades, arrancaram fiação e atearam fogo à sede, ao galpão e ao canavial

Cerca de 300 militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) invadiram ontem de manhã a sede da Usina Aliança, no município do mesmo nome, na Zona da Mata pernambucana. Na fazenda, os invasores quebraram grades, arrancaram a fiação e acabaram por incendiar a casa-grande, o galpão e uma área de canavial. A usina Aliança faliu e está desativada desde 1996. "Voltamos para um ato de protesto, de insatisfação pela inércia do Incra e do governo federal", afirmou o líder do MST, Jaime Amorim. "Desde o ano passado as áreas de oito dos 22 engenhos pertencentes à usina foram desapropriados e até hoje o Incra não se imitiu na posse". A ação durou cerca de duas horas e, depois dos estragos, os invasores deixaram o local. Não houve confronto com a Polícia Militar, que não chegou a intervir.

EM AVALIAÇÃO

A superintendente regional do Incra, Maria de Oliveira, informou que as áreas dos oito engenhos - quase 2,5 mil hectares - estão sendo avaliadas e que o Incra tem enfrentado entraves jurídicos para vistoriar e iniciar a desapropriação dos 14 engenhos restantes. As áreas desses engenhos foram desmembradas em frações abaixo da área mínima de parcelamento de propriedade rural, para serem negociados como pagamento de causas trabalhistas.

Oliveira informou que os registros dessas áreas terão de ser anulados, por terem sido feitos irregularmente. Segundo ela, cada área e cada processo têm de ser analisados individualmente. E ainda há um outro obstáculo: o decreto de desapropriação dos oito engenhos precisa ser reeditado, com alteração no texto. "Tudo isso demanda tempo", frisou ela, que seguiu ontem à tarde para Brasília, para uma reunião sobre o assunto nesta quarta-feira. "Os movimentos sociais sabem de tudo isso", comentou ela.

Com dívidas federais e trabalhistas, a Usina Aliança tem sido palco de conflitos desde o seu fechamento. A primeira ocupação do terreno da usina aconteceu em 1998. Três anos depois, em abril de 2001, sob o comando do MST e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), cerca de 800 invasores destruíram imóveis da sede da usina, poupando a casa-grande. Em 2003, dois invasores foram mortos na área.