Título: Empregados estão fora do comitê de credores da Varig
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Economia & Negócios, p. B9

Racha entre funcionários adia indicação do representante que acompanhará plano de recuperação da empresa

Uma disputa entre os trabalhadores da Varig impediu a eleição de um representante dos empregados para o comitê de credores da companhia, que foi instituído no sábado, em assembléia realizada no Rio. O Sindicato dos Aeroviários se recusou a participar da eleição, alegando mudanças nas regras, e não garantiu quórum para a escolha. Depois de consulta à Justiça, o administrador judicial da empresa, João Vianna, abriu a votação para representantes dos credores classe 2 (fundo de pensão Aerus e Banco do Brasil) e classe 3 (fornecedores de bens e serviços). Uma nova eleição deve ser convocada para preencher a terceira vaga. O governo garantiu sua presença no comitê de credores com a eleição da estatal Infraero como representante dos credores classe 3. A empresa se valeu do fato de ser uma das maiores credoras individuais da Varig, com R$ 360 milhões a receber, incluindo o valor devido ao Comando da Aeronáutica.

O diretor financeiro da estatal, Adenahuer Figueira Nunes, será o titular dos credores classe 3 no comitê. Segundo ele, o conselho de administração da Infraero, que conta com o vice-presidente José Alencar, vai avaliar o plano de recuperação judicial da companhia, para depois apresentar sugestões.

A instalação de um comitê de credores foi determinada pelo Ministério Público, com o objetivo de acompanhar a recuperação da empresa, afundada em R$ 7,7 bilhões em dívidas. A eleição, realizada na Marina da Glória, foi tumultuada e demorou pelo menos duas horas para começar, por causa da resistência dos sindicalistas a participar. Os organizadores tiveram de consultar a juíza Márcia Cunha, da 8.ª Vara Federal do Rio, sobre a viabilidade de prosseguir a assembléia sem participação dos empregados. Naquele momento, Márcia dava aula em uma faculdade e foi interrompida pelos organizadores para autorizar a votação.

¿Os trabalhadores se retiraram porque as regras estão sendo mudadas o tempo todo¿, afirmou a presidente do Sindicato dos Aeroviários, Graziella Baggio. Os sindicalistas alegam que, segundo a Constituição, teriam direito a representar todos os funcionários, e não só os sindicalizados, conforme prevê a nova Lei de Falências ¿ a questão é tema de uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal federal (STF). Além disso, ela reclamou que a modelagem da eleição previa maior poder de decisão a quem representasse um volume de dívidas maior, o que tirava a vantagem dos sindicatos.

¿O resultado disso é que os trabalhadores agora não vão participar de decisões importantes sobre o futuro da companhia¿, reclamou o coordenador da entidade Trabalhadores Gerais da Varig (TGV), Márcio Marsillac, opositor dos sindicatos.