Título: Eleição é chance para salto de qualidade na carreira
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A4

A eleição para a presidência da Câmara levou pelo menos três parlamentares a tentarem um salto de qualidade em suas carreiras políticas. José Thomaz Nonô (PFL-AL), presidente em exercício, atual primeiro vice-presidente, Ciro Nogueira (PP-PI), atual segundo vice-presidente e corregedor da Câmara, e João Caldas (PL-AL), quarto secretário, são todos candidatos à sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou na quarta-feira. Quem tenta o salto mais alto é o deputado João Caldas (PL-AL). Ele sabe que não tem nenhuma condição de chegar a um segundo turno, que parece ser disputado por três candidatos - Nonô, Aldo Rebelo (PC do B-SP) e Michel Temer (PMDB-SP). Mesmo assim, foi o primeiro a se inscrever para concorrer à eleição de quarta-feira, quando será escolhido o novo presidente da Câmara. Só o fato de disputar o cargo mais importante da Casa, segundo na linha de sucessão do presidente da República, é a certeza de ocupar pelo menos um bom espaço na mídia.

Como é um dos comandantes do baixo clero, Caldas pode negociar votos com alguns dos candidatos com maiores chances de vitória. Ao fazer sua campanha, quase não pede votos para si. Mas costuma lembrar ao parlamentar abordado que Ciro Nogueira está na disputa. É o cabo eleitoral do candidato.

Também disputa a presidência da Câmara sem nenhuma possibilidade de vitória o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Ele concorreu na eleição que elegeu o pernambucano Severino Cavalcanti e teve apenas dois votos - o dele e o de um eleitor que até hoje ele não conseguiu identificar.

O próprio Bolsonaro costuma dizer que não disputa para vencer. Da última vez, concorreu apenas, segundo diz, para atrapalhar o candidato do PT e do governo, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Nem precisava. Greenhalgh foi vitimado dentro do próprio PT pelo dissidente Virgílio Guimarães (PT-MG). Nessa confusão, o vencedor acabou sendo Severino.

Sem existência oficial, a bancada do "PM" (Partido do Mensalão) se move na Câmara para influenciar a eleição do próximo presidente da Casa.

Não é um grupo de se desprezar. São 16 parlamentares ameaçados de cassação por terem sido citados, no relatório combinado da CPI dos Correios e do Mensalão, por algum tipo de envolvimento com o esquema operado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.

O nome do coração da bancada do mensalão seria Ciro Nogueira.

O grupo tem representantes de seis partidos (PT, PP, PL, PTB, PMDB e PFL), possui contornos imprecisos, mas ultrapassa o número de citados porque ainda são desconhecidos os nomes de deputados que teriam sido abastecidos pelo duto do PP, supostamente comandado por José Janene (PR).