Título: Nonô e Temer ensaiam acordo para derrotar candidato do Planalto
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A4

O primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), e o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), já ensaiam um acordo para tentar derrotar o candidato do Palácio do Planalto, Aldo Rebelo (PC do B-SP), na disputa pela presidência da Casa. Em encontro realizado ontem na presidência do PMDB, eles fecharam um acerto de cavalheiros pelo qual ambos manterão uma campanha sem confronto entre eles, ao menos até amanhã. Temer decidiu esticar sua candidatura pelas próximas 48 horas, "para que não haja dispersão de votos no PMDB", mas segundo um dirigente peemedebista é possível que ele nem registre seu nome ou que se retire da disputa com um discurso na quarta-feira pela manhã. Neste caso, diz o dirigente, a idéia é investir em Nonô com a promessa do PFL e do PSDB apoiarem um representante da ala rebelde do PMDB para o posto de primeiro vice.

"Está tudo muito difuso, ninguém está sinalizando apoio a ninguém e está todo mundo conversando com todo mundo", explicou Temer ontem, ao salientar sua disposição de sustentar a candidatura. Sua renúncia vem sendo cogitada desde a última quinta-feira, com o baque sofrido por conta da adesão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à candidatura de Aldo.

Diante do veto do Planalto a Temer, por quem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirma ter sido traído durante as negociações da reforma ministerial com o PMDB, Aldo Rebelo passou a ser a opção da ala governista do PMDB. "Mas essa história de que o candidato da base tem 50 votos de peemedebistas é conversa fiada", contesta Temer, para concluir: "Haverá a tradicional cota de traição no PMDB, mas não vai passar de 10% a 12%".

Embora o PT tenha renunciado à candidatura do líder governista Arlindo Chinaglia (PT-SP) em favor de Aldo, tanto Nonô quanto Temer contam com votos de dissidentes do PT para ganhar força na disputa. Segundo um interlocutor palaciano, Lula "jogou bem" quando vetou Temer e lançou Aldo com o apoio do PSB do deputado Eduardo Campos (PE). A melhor jogada de Lula, segundo o interlocutor, foi a de empurrar para Renan a "culpa" pela "rasteira" em Temer quando ele, presidente, não admitia dar o comando da Câmara ao presidente do PMDB que não tem sua confiança. Mas o episódio produziu seqüelas tanto na esquerda quanto na ala moderada do PT. "Mais uma vez o Planalto perdeu o timing, fez uma interferência em momento indevido, magoou pessoas e atropelou as negociações", resume o deputado Walter Pinheiro (PT-BA).

Em vez de desistir, o presidente do PMDB consumiu as últimas horas em contatos com líderes e candidatos do PTB, PL e PP, na tentativa de costurar o consenso em torno de um nome que possa representar a terceira via, que não seja governo nem oposição. "Se nos unirmos, isso vai dar quase 230 votos", disse Temer depois da série de conversas com os candidatos das três legendas. "Mas, evidentemente, todos os que falaram comigo são candidatos e, se não for possível aglutinar, cada um vai por conta própria", emendou.

'TRAIÇÃO'

Temer também tentou virar o jogo no PSDB, procurando o ex-presidente Fernando Henrique, mas não teve sucesso. "Conversamos com Fernando Henrique mas, à medida que fomos traídos pelo presidente do Senado, que é do nosso partido, fica difícil segurar os outros", admite o deputado Geddel Vieira Lima (BA), que não contém a ira contra o senador: "Que ninguém atribua um eventual fracasso da candidatura de Temer a qualquer outro motivo que não a molecagem e a traição de Renan".