Título: Apolônio era símbolo da ética, afirma presidente
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A6

Demonstrando emoção e abatimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou falar aos jornalistas apenas sobre Apolônio de Carvalho, que fez questão de visitar no Rio logo após vencer as eleições, em 2002. "Para nós do PT, para a nossa geração e para o povo brasileiro, Apolônio significava o símbolo da coerência, do comportamento ético, da maturidade política. Poucas vezes vi um político com o otimismo do Apolônio. Não tinha crise, não tinha situação difícil em que o Apolônio não estivesse alegre, otimista", disse o presidente, revelando que falou pela última vez com o amigo na última quarta-feira, quando soube da internação dele e telefonou. "Renée disse que ele não podia falar, mas passou o telefone para ele ouvir. A primeira coisa que ele fez foi dizer: Lula, estou saindo do hospital."

O presidente disse ainda que pediu ao ministro da Saúde, Saraiva Felipe, para visitar Apolônio no Rio. "Ele disse que estava bom e que ia sair do hospital, que o médico tinha garantido para ele. E, finalmente, morreu Apolônio. Quem conviveu com ele nos últimos 30 anos sabe que não é o Brasil que perde. Acho que o mundo perde um cidadão com todas as letras maiúsculas", afirmou. Segundo Raul de Carvalho, nos instantes em que esteve reunido com a família próximo do caixão, Lula demonstrou a emoção e o afeto de quem conviveu por muitos anos com o pai, além do carinho especial com a viúva, Renée.

José Dirceu disse que Apolônio sempre foi um símbolo para os petistas e chegou a dizer que o PT não seria o que é sem a influência dele. "Ele sempre estava pensando para frente, no mundo, na humanidade. Antes de mais nada ele era um humanista", disse o deputado, que não quis falar sobre outros assuntos e ressaltou que não esteve com Apolônio depois do início da crise política.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) também esteve no velório e comparou Apolônio a figuras como Mahatma Gandhi e Nelson Mandela. "Ele sabia muito bem o que significava este espírito de anistia, que significa também o reconhecimento dos erros e como dar a volta por cima de problemas tais como os que estamos vivendo hoje."

O ministro Luiz Dulci destacou a simplicidade de um homem que trilhou uma incrível trajetória. "Apolônio representou o que havia de mais democrático e progressista da alma e da cultura brasileira nas lutas na Espanha e na França e depois voltou como um dos líderes da esquerda na luta pela redemocratização no Brasil. Fundou o PT. Poucas pessoas como ele viveram a história do Brasil e do mundo com tanta intensidade. E fez tudo isso sendo uma das pessoas mais amáveis e carinhosas que eu já vi em toda a minha vida."

Também estiveram no cemitério políticos como os deputados Jorge Bittar (PT-RJ) e Jandira Feghali (PC do B-RJ). Apolônio de Carvalho faleceu sexta-feira de insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. O corpo foi velado durante todo o dia de sábado no Palácio Pedro Ernesto.