Título: No velório, um frio e constrangido reencontro de Lula e Dirceu
Autor: Alexandre Rodrigues
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A6

Rápido, frio e marcado por uma aparência de constrangimento. Assim foi o primeiro encontro público do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com seu antigo companheiro José Dirceu, depois que o deputado deixou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil, no auge da crise do mensalão. O encontro foi no Cemitério do Caju, no Rio, durante o velório do velho militante comunista e ícone da esquerda brasileira, Apolônio de Carvalho, morto sexta-feira aos 93 anos. Ao chegar à capela, Lula ficou por alguns instantes cumprimentando pessoas, a poucos metros do deputado, mas sem vê-lo. Dirceu então fez um gesto de positivo com o polegar direito para Marisa e tomou a iniciativa de aproximar-se. Primeiro cumprimentou a primeira-dama com beijinhos no rosto; depois, estendeu a mão para o presidente. Lula apertou sua mão mas não o puxou para um abraço, como fez com inúmeras outras pessoas na cerimônia. Diante de certo constrangimento, não houve troca de palavras e Dirceu logo se afastou.

Antes e depois do cumprimento, cada um deles falou demoradamente com outros petistas. O ex-deputado Vladimir Palmeira, por exemplo, conversou com os dois, mas separadamente. Quando Lula saiu da capela para acompanhar a remoção do corpo até o crematório, Dirceu, do pátio, o acompanhou com o olhar e logo foi embora.

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O presidente e a primeira-dama Marisa Letícia chegaram ao cemitério por volta das 10h30, acompanhados pelo ministro Luiz Dulci, da Secretaria Geral da Presidência, e o assessor especial Marco Aurélio Garcia. Lula foi recebido pelos dois filhos de Apolônio, René e Raul de Carvalho, e ficou cerca de 10 minutos na capela. Dirceu, que havia chegado meia hora antes, continuou do lado de fora, conversando com Palmeira.

Lula e Marisa acolheram a viúva, Renée de Carvalho, no carro e a conduziram até o crematório, onde aguardaram a chegada do cortejo que atravessou as aléias do cemitério. Cantando o Hino Nacional, cerca de 200 pessoas seguiram o caixão coberto com as bandeiras do Brasil, do PT, do MST, da Espanha e da França, numa alusão às participações de Apolônio na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa que enfrentou a ocupação nazista. A cremação do corpo foi acompanhada por aplausos para o morto e a execução da Internacional, hino comunista.

Lula deixou o cemitério um pouco antes do fim da cerimônia. À saída, o presidente conversou durante vários minutos com Vladimir Palmeira, à porta do crematório.