Título: Testemunha-chave é ligada a Abi-Ackel
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Nacional, p. A8
A testemunha mais importante do esquema do mensalão nos interiores do PP, partido do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, sempre esteve muito próxima do deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), relator da própria CPI que investiga o pagamento de propina a parlamentares. Trata-se do funcionário comissionado da Câmara Wagner Fernandes Pinheiro, que trocou o trabalho no gabinete do José Janene, líder do PP, pelo de Abi-Ackel. Mesmo com tanta proximidade, Pinheiro nunca foi chamado para prestar qualquer depoimento. Agora, o presidente da CPI do Mensalão, senador Amir Lando (PMDB-RO), está decidido a convocá-lo para que ele conte o que sabe sobre o esquema de pagamento de propina a deputados do PP.
O funcionário já colaborou informalmente com a CPI dos Correios e manteve alguns encontros com o senador Delcídio Amaral (PT-MS) e assessores. Muitas das informações repassadas por ele se confirmaram, mas Pinheiro preferiu distanciar-se por temer represálias dos coronéis do PP. O curioso é que seu afastamento do gabinete de Abi-Ackel coincidiu com a publicidade das primeiras denúncias em que se desvendava o esquema de funcionamento do mensalão no PP.
Tido como assessor que cumpre suas obrigações com correção, Pinheiro, que também já foi jogador de futebol nos Estados Unidos, evitou contatos com integrantes da CPI dos Correios, mas nunca se distanciou do que acontecia nos bastidores do Congresso. Depois de deixar o gabinete do deputado Janene, Pinheiro passou a trabalhar com o deputado Herculano Anghinetti (PP-MG), licenciado por ser secretário de Turismo do governo de Minas. Em fevereiro de 2004, o deputado foi substituído por Abi-Ackel.
Como o cargo era de confiança, ele pediu para sair, mas foi mantido por Abi-Ackel. Mas em 28 de junho, depois das denúncias do deputado Roberto Jefferson, Pinheiro acabou exonerado.
Outra coincidência. O relator da CPI do Mensalão acabou perdendo a testemunha que melhor poderia municiar a CPI. Pinheiro, que sempre resistiu a tornar público o que sabe, poderia se sentir mais confortável para fazer suas revelações com Abi-Ackel, seu ex-chefe, além de também pertencer aos quadros do PP, mesmo partido de Janene. Procurado em seu gabinete em Brasília e em seu escritório político em Belo Horizonte, na sexta e no domingo, Abi-Ackel não foi localizado nem retornou as ligações solicitadas pela reportagem do Estado.
O senador Amir Lando desconhecia as ligações profissionais entre Abi-Ackel e Pinheiro. Na verdade, o senador apenas sabia que o funcionário tinha repassado informações a integrantes da CPI dos Correios. Depois do depoimento do depoimento do doleiro Antônio Carlos Claramund, o Toninho da Barcelona, que acusou o PP de ter recebido R$ 8 milhões, o presidente da CPI do Mensalão decidiu colocar luzes sobre a real dimensão do mensalão dentro do PP.