Título: Palocci: custo da dívida é dos ricos
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ontem que os países ricos devem pagar a conta do perdão da dívida dos países pobres com as instituições financeiras internacionais. ¿Os países em desenvolvimento¿, disse o ministro, ¿não devem ser chamados a arcar com parte dos custos adicionais gerados pelo cancelamento da dívida proposto pelo G-8, tanto na Agência Internacional para o Desenvolvimento (AID), quanto no FMI.¿ Trinta e sete países pobres poderão ser beneficiados com o perdão de uma dívida total de US$ 55 bilhões, segundo anunciou no sábado à noite o Comitê Monetário e Financeiro do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ontem falava-se em 38 e foi esse o número usado por Palocci em seu discurso. Até o fim do ano, a Diretoria Executiva do Fundo deverá definir detalhes da operação. ¿Isso quer dizer que o processo histórico de cancelamento da dívida, iniciado há muitos anos, terminou hoje, com este acordo¿, disse o secretário do Tesouro da Grã-Bretanha e presidente do comitê, Gordon Brown.

Mas o perdão ainda vai depender da aprovação da proposta pelo Congresso americano, pelo Parlamento britânico e, talvez, dos legislativos de outros países doadores, admitiu Gordon.

Além disso, falta acertar detalhes importantes, disse ontem Palocci. Perdoada a dívida, será preciso repor o capital da AID, a agência do Banco Mundial especializada na assistência aos países mais pobres.

Os países do G-8, os sete mais ricos do mundo capitalista mais a Rússia, concordaram, segundo Brown, em contribuir para a reposição, para que o FMI, o Banco Mundial e outras instituições multilaterais, possam continuar emprestando. Mas Palocci procurou deixar claro, ontem, que os países em desenvolvimento também contribuintes da AID têm de ficar livres desse encargo adicional. Numa entrevista durante a semana, o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, havia indicado que a conta seria rachada entre todos os doadores.

Palocci defendeu esse ponto de vista, falando em nome do Brasil e de mais sete países de seu grupo ¿ Colômbia, Equador, Filipinas, Haiti, Panamá, República Dominicana e Trinidad e Tobago. Segundo ele, os critérios para divisão de encargos foram definidos em 2002 na reunião internacional de Monterrey, no México, quando se discutiram estratégias para a redução da pobreza.

Segundo o ¿espírito de Monterrey¿, disse Palocci, os países em desenvolvimento doadores não deveriam ir além dos compromissos normais de recomposição dos fundos da AID. ¿Esses países têm de cuidar dos próprios bolsões de pobreza.¿ Países de renda média conseguiram abrir espaço para contribuir para a AID, ¿às vezes desviando recursos que poderiam ir para os seus pobres¿.