Título: Inflação e política atraem a atenção
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Economia & Negócios, p. B4
As especulações sobre o rumo da taxa básica de juros tendem a continuar ditando o ritmo dos negócios no mercado financeiro. A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu 0,25 ponto porcentual o juro básico, manteve a indefinição sobre os próximos passos do Banco Central, comenta Flávio Farah, vice-presidente-executivo de Tesouraria do Banco WestLB do Brasil. ¿A ata divulgada na quinta-feira eliminou a incerteza sobre a retomada de queda, mas não deixou pistas sobre o ritmo de redução do juro daqui para a frente.¿ A falta de uma idéia mais clara sobre a trajetória da taxa básica fortalece a expectativa com a divulgação esta semana, ainda sem data definida, do Relatório de Inflação pelo BC. A idéia é que nesse relatório trimestral o BC qualifique pouco mais os modelos adotados para acompanhar a inflação e, por tabela, calibrar as taxas de juro. ¿É mais uma peça para que o mercado financeiro tente montar o quebra-cabeça dos juros.¿
Outros indicadores que podem esquentar as discussões em torno dos juros são a terceira prévia do IPC-Fipe, que será conhecido amanhã, e a inflação de setembro pelo IGP-M, a ser divulgado na quinta-feira. A estimativa de Farah é que o IGP-M aponte deflação de 0,50% e o IPC-Fipe uma inflação de 0,20%, refletindo os efeitos do reajuste de combustível.
O mercado de juros deve dividir a atenção dos investidores com o de dólar, em que a emissão externa de títulos do Tesouro em reais só fez acentuar a queda da moeda americana. A emissão em reais abriu especulações sobre possível elevação de nota dos títulos brasileiros (upgrade) pelas agências de classificação de risco. Na avaliação de Farah, diante da pressão vendedora de dólar, apenas a atuação do BC como comprador no mercado poderia conter a persistente baixa dos preços.
Os investidores estarão com o interesse voltado também à eleição do novo presidente da Câmara, em votação prevista para quarta-feira. ¿É um processo que pode afetar o mercado¿, comenta Farah. A grande dúvida é com a posição do PMDB, que lançou um candidato da ala oposicionista do partido, o deputado Michel Temer. O temor do mercado é que uma possível vitória deixe a oposição mais crítica em relação às denúncias e mais disposta a acolher pedidos de impeachment contra o presidente Lula.
No cenário internacional, os indicadores mais aguardados são a revisão final do PIB anualizado dos EUA no segundo trimestre, que será divulgado na quinta-feira, e o PCE de agosto, um índice inflacionário visto de perto pelo Fed, banco central dos EUA, na sexta-feira. O presidente do Fed, Alan Greenspan, volta a atrair a atenção dos investidores em dois eventos. Hoje, Greenspan discursa na conferência anual da American Bankers Association, na Califórnia; e, amanhã, participará da conferência da Associação Nacional dos Economistas de Empresas em Chicago.