Título: Política comercial não ajudou Brasil
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2005, Economia & Negócios, p. B7

As negociações comerciais tiveram impacto reduzido sobre o expressivo crescimento exportador brasileiro desde 2002 e a contribuição deverá continuar marginal, dado o cenário atual. O diagnóstico é do editor da principal publicação da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), Pedro da Motta Veiga. Segundo ele, o País foi favorecido por fatores externos, com a demanda internacional, e deveria dar um impulso à implementação de acordos, para aproveitar melhor o bom momento global e se preparar para uma fase, no futuro, não tão boa quanto a atual. ¿Isso é uma constatação¿, disse ao Estado o especialista em comércio exterior, sócio da consultoria EcoStrat. Ele argumenta que não houve desde o início desta década, nem neste governo nem no anterior, negociação comercial que tenha gerado impacto proporcional ao ¿boom¿ exportador recente. Em paralelo, o comércio exterior brasileiro registrou expressivo crescimento: entre 1999 e 2004, as vendas dobraram.

¿A contribuição é marginal e continuará a sê-lo nos próximos anos, considerando-se tanto as negociações que enfrentam dificuldades para avançar quanto aquelas que geraram algum tipo de acordo¿, registra o editorial assinado por Motta Veiga, na recente edição da Revista Brasileira de Comércio Exterior (RBCE). O alerta é que o forte desempenho exportador atual pode acabar ofuscando a necessidade de se avançar nas negociações comerciais. ¿Não é para defender que se faça qualquer negócio não¿, pondera.

Motta Veiga afirma que a prioridade hoje para o País é a Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC). Ele também defende a reabertura de entendimentos com os Estados Unidos e a ampliação dos acordos com Índia, México e África, hoje, segundo ele, limitados. De forma geral, o especialista afirma que a ressalva em termos de negociações recentes foi o acordo automotivo com o México, que gerou, ainda assim, efeito localizado.

Para ele, negociações já concluídas, com países da Comunidade Andina, a União Aduaneira do Sul da África e Índia, vão gerar ¿impacto limitado¿, por causa do restrito tamanho dos mercados. No âmbito da política comercial, Motta Veiga reconhece que medidas unilaterais, como promoção comercial, linhas de financiamento e estruturação da Agência de Promoção de Exportações (Apex) contribuíram positivamente. ¿A questão é saber se, em um ambiente internacional menos favorável às exportações brasileiras, os acordos comerciais não farão falta¿, registra o especialista. O diagnóstico leva em conta que as vendas brasileiras avançaram em meio à expansão global, ao avanço da China como forte comprador de produtos primários, associado à elevação das cotações internacionais, provadas pelo aumento da demanda internacional.

¿Neste contexto favorável pode ser que de fato os acordos sejam menos importantes. Mas mudou a conjuntura, estas coisas começam a pesar mais. Por isso, o desempenho não deve servir para negar a importância das negociações¿, diz Motta Veiga. O secretário-executivo do ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Ivan Ramalho, afirma que nos últimos anos o País tem participado de várias reuniões e teve forte presença no mundo, com missões governamentais e empresariais.

Segundo ele, ¿se além disso tivermos concluídas com êxito algumas das principais negociações comerciais com as quais o Brasil está envolvido, incluído a rodada da OMC, se o Brasil conseguir avanços em itens importantes, acho que isso aí vai dar uma força adicional para o comércio exterior brasileiro.¿.