Título: Renan quebra tradição e se envolve na disputa
Autor: Denise Madueño, Vera Rosa e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), quebrou na madrugada de ontem uma tradição do Congresso: envolveu-se diretamente na sucessão da Câmara. Preocupado com a incapacidade do deputado peemedebista Michel Temer (SP) se tornar um candidato viável à sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou à presidência da Casa e ao mandato para escapar de um processo de cassação por quebra de decoro, Calheiros decidiu coordenar uma investida para insuflar a candidatura de Aldo Rabelo (PC do B-AL). A entrada em campo de Calheiros foi combinada com o Planalto. O senador encontrou-se na quarta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando alertou sobre a inviabilidade tanto da candidatura de um petista quando de Temer. Na conversa teria surgido o nome do ex-ministro da Coordenação Política.

Em comum, Planalto e Renan temem a candidatura do pefelista José Thomaz Nonô (AL). Por motivos diferentes, mas complementares. Renan disputa espaço político com Nonô em Alagoas e receia que a presidência da Câmara o projete no cenário local. Nonô já recebeu apoio do PSDB, PPS e PDT e os pefelistas dão como certa a ida dele para o segundo turno.

O nome de Aldo, porém, teve que ser costurado dentro do PMDB. Depois que o PSDB fechou com o PFL para apoiar Nonô, os peemedebistas ainda tentaram um acordo com os tucanos, recorrendo até ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas foi em vão.

Reunidos na casa do presidente do Senado, líderes do PMDB e de outros partidos aliados tentaram uma aliança com o PT. Também saíram frustrados, já que os petistas, então, não abriram mão da candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) - que mais tarde seria forçado a abdicar dela.

As conversas seguiram até as 4 horas da madrugada. Resultado: o PSB, com o apoio de setores do PMDB, incluindo Calheiros, decidiu trabalhar a favor de Rebelo.

O esforço de Renan pela candidatura Temer não foi dos mais entusiasmados. No caso de Temer, a ala governista do PMDB entende que, no comando da Câmara, ele poderia controlar ainda mais o partido e, conseqüentemente, esvaziar o espaço de Renan e de seu grupo político, incluindo o senador José Sarney (PMDB-AP). Além disso, voltaria a ter cargos e poder na Câmara.