Título: Governo desiste de candidatura petista e tenta emplacar Aldo
Autor: Denise Madueño, Vera Rosa e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A4

Menos de 24 horas após ter sido lançado pelo PT, o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia (SP), retirou ontem sua candidatura à presidência da Câmara. PT. A desistência ocorreu a pedido do Palácio do Planalto diante das resistências a Chinaglia entre os partidos da base aliada. Antes mesmo do gesto do petista, anunciado à noite, o governo começou a articular a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PC do B-AL) para a sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou ao mandato para escapar da cassação. "Retirei meu nome para que a base de sustentação do governo se unifique em torno de um nome que achar mais apropriado", afirmou Chinaglia.

À noite, Chinaglia declarou apoio a Aldo. "Retirei minha candidatura porque esse não é um processo fácil. Havia divergências na base aliada e não adiantava concorrer deixando alguma bancada insatisfeita", afirmou o líder do governo. Henrique Fontana, líder do PT na Câmara, disse, por sua vez, que conversou com vários deputados petistas e todos aprovaram a opção por Aldo. "O PT está totalmente representado nessa candidatura", observou. Na prática, porém, o partido está dividido e muitos petistas torcem o nariz para Aldo.

Durante todo o dia foi intensa a movimentação no Planalto e nos gabinetes dos líderes aliados. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com o líder do PTB na Câmara, José Múcio (PE), e com o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Múcio foi direto ao assunto: disse ao presidente que o candidato não deveria ser do PT. Afirmou, ainda, que o governo corria sério risco de sofrer derrota semelhante à de fevereiro, quando o PT lançou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e, dividido, perdeu o comando da Câmara.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também conversou com Lula e avisou que apoiaria Aldo, ex-ministro da Coordenação Política, e não o deputado Michel Temer, da ala oposicionista do PMDB, para a cadeira de Severino.

Preocupado com o crescimento da candidatura do deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), atual vice-presidente da Câmara, o governo decidiu, então, pôr à prova o nome de Aldo. Segundo um auxiliar direto do presidente, Chinaglia teve de abrir mão porque, apesar de ter a simpatia do baixo clero, não contava com bom trânsito na oposição. Para o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), o gesto do PT foi o mais acertado. "O PSB não fez uma composição para aglutinar."

Até agora há dez pré-candidatos à presidência da Câmara. Apenas dois, no entanto, oficializaram seus nomes na disputa, marcada para as 10 horas de quarta-feira. O quarto-secretário da Mesa, João Caldas (PL-AL), foi o primeiro a registrar sua candidatura, ainda pela manhã. Mais tarde, foi a vez de Jair Bolsonaro (PP-RJ), que disputou a presidência em fevereiro.

Thomaz Nonô e Temer, presidente do PMDB, passaram o dia tentando arregimentar mais apoios. Os dois são os que contabilizam mais votos e dão como certa a ida ao segundo turno. O governo chegou a cogitar a possibilidade de apoiar Temer, mas avalia que ele não é confiável. Ele foi considerado pouco palatável porque tem o apoio dos peemedebistas que são considerados inimigos do Planalto: os ex-governadores Orestes Quércia e Anthony Garotinho.

PÔQUER

Entre petistas, a escolha de Chinaglia foi entendida como o caminho mais curto para perder a eleição. Nessa avaliação, que também é de aliados, o governo e o PT estariam repetindo o erro da eleição passada. Greenhalgh, porém, foi um dos principais articuladores da candidatura de Chinaglia. "Se o Planalto mantivesse Chinaglia, ia estar querendo perder a eleição", afirmou um deputado petista. "Aí, o Lula ficaria com o discurso do coitadinho que teve o governo prejudicado pela Câmara."

Antes do lançamento de Chinaglia, o PT também apresentou os nomes dos deputados petistas José Eduardo Cardozo (SP) , Sigmaringa Seixas (DF) e Paulo Delgado (MG). Os três abriram mão de suas candidaturas para apoiar o líder do governo e não gostaram da renúncia do companheiro. "Fomos enganados", afirmou um deles.

O deputado João Caldas disse acreditar que o cenário só deverá mudar a partir de segunda-feira. "Daqui até segunda ninguém vai entregar os pontos. Tem muita candidatura blefe. Está até parecendo jogo de pôquer", comentou. "Só não tem chance de ganhar quem não entrar na disputa."