Título: Severino recebeu oferta de suborno, diz petista
Autor: Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A6

Cerca de uma semana antes de renunciar à presidência da Câmara, o deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) teria recebido proposta de suborno para licenciar-se do cargo e permitir que a oposição assumisse seu lugar. O relato da suposta proposta teria sido feito pelo próprio Severino a um grupo de deputados da base, conforme contou ontem o deputado Fernando Ferro (PT-PE). De acordo com o petista, Severino contou que ofereceram vantagens financeiras para ele se licenciar, permitindo que a oposição, ao assumir o seu lugar sem a necessidade de nova eleição, autorizasse a instalação de processo de impeachment contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Seria um golpe", afirmou Ferro. Em discurso no plenário, o deputado depois disse que a oferta envolveria "vantagens", mas retirou a palavra "financeiras".

De acordo com o petista, Severino citou o presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, como integrante do grupo que fez a proposta. Severino, por meio de amigos, confirmou ter recebido Afif em sua casa e que o empresário lhe sugeriu o afastamento, sem renúncia. Mas negou a oferta de vantagens.

É a mesma versão de Afif. Em nota, o presidente da Associação Comercial confirmou ter recomendado a Severino o licenciamento da presidência da Câmara, assim que estouraram as denúncias contra ele. "Para não atrapalhar os trabalhos da Casa", frisou Afif. "Se isso está sendo colocado como conspiração, afirmamos que se trata de puro delírio de um parlamentar cujo partido está atolado na lama".

Severino telefonou para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e pediu um desmentido a Ferro. Procurado pelo Estado, Chinaglia não respondeu aos recados deixados em seu celular e em seu gabinete. "Ele (Severino) contou que teriam falado para ele: Entrega a Mesa da Câmara que a gente faz o serviço em pouco tempo", afirmou Ferro.

Como testemunhas da conversa, Ferro citou os deputados Chinaglia, Aldo Rebelo (PC do B-SP), João Caldas (PL-AL), e os líderes do PL, Sandro Mabel (GO), do PP, José Janene (PR), e do PC do B, Renildo Calheiros (PE). Ontem, parte dos deputados que estava no encontro disse não se lembrar do termo vantagens, mas um deles confirmou parcialmente o relato de Ferro.

Esse deputado contou que estavam reunidos em um quarto da residência oficial, na quarta-feira da semana passada, quando Severino contou a proposta de licenciamento em troca de vantagens. Em seguida, Severino afirmou que não a aceitaria porque não seria bom para o Brasil. "Lembro-me de ter ouvido a palavra pressão", respondeu Calheiros. "Não ouvi e não sou testemunha", reagiu Aldo Rebelo.