Título: Severino muda de casa e já arma campanha de 2006
Autor: Lisandra ParaguassúAngela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A7

Severino Cavalcanti passou ontem o primeiro dia sem mandato em 42 anos, desde que se tornou prefeito de João Alfredo (PE). Com a renúncia ao mandato de deputado, ele e sua família desocuparam a residência oficial da presidência da Câmara, um casarão à beira do Lago Paranoá, e passaram a ocupar um apartamento funcional em Brasília, o mesmo em que ele morava antes de assumir o comando da Casa. Severino tem um mês para sair do apartamento, na quadra 302 norte - a mesma que já abrigou o deputado cassado Roberto Jefferson e o deputado José Dirceu, que pode ser o próximo na lista de cassações. Na noite da sua renúncia, anteontem, Severino nem mesmo assistiu aos telejornais. Passou boa parte da noite falando por telefone com correligionários e prefeitos de Pernambuco, preparando o início da sua próxima campanha para deputado. Ele quer ser novamente eleito em 2006, com o dobro de votos, numa mostra de que será "absolvido pelo povo", como disse no discurso de despedida.

O ex-deputado tem planos de percorrer Pernambuco a partir da próxima semana, quando deixará Brasília. Acha que se dedicou muito à Câmara nos últimos meses e precisa cuidar das bases. Afinal, como diz sua esposa, Amélia, Severino adora eleição - "quando não tem uma, ele inventa", diz ela.

O primeiro dia após a renúncia foi calmo. Severino e Amélia saíram às 8h30 para uma cirurgia - ambos foram submetidos a operação de catarata no olho esquerdo. O casal já tinha operado o olho direito, há 15 dias. Ficaram no Hospital Oftalmológico de Brasília por cerca de uma hora, saíram sem ser vistos e não retornaram para casa.

DENÚNCIA

Catarina, a filha do ex-deputado que ficou em Brasília para acompanhar os pais, decidiu levá-los para a casa de um amigo, sem revelar o endereço. Estava incomodada com a presença de jornalistas e fotógrafos.

No gabinete da presidência da Câmara, os resquícios de Severino também saíram. Fotos de campanha e da família, diplomas, os santos que carrega para onde vai, já foram embalados. Restaram, por enquanto, os funcionários. Mas só ficam até quarta-feira,quando será eleito o sucessor do presidente mais breve da história recente da Câmara.

filha

A deputada estadual Ana Cavalcanti (PP), filha do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, ocupou a tribuna da Assembléia de Pernambuco, ontem, para afirmar que seu pai foi "vítima de um golpe e do preconceito por ser um nordestino de pouca escolaridade no comando de um barco onde muitos dos tripulantes se julgavam donos do saber e da intelectualidade".

"Arrancaram-lhe o mandato", acusou ela. "Sua renúncia, mesmo sendo um ato voluntário, não é admissão de culpa", frisou em seu discurso. Segundo ela, Severino optou pela renúncia espelhando-se no que ocorreu ao ex-presidente da Câmara Ibsen Pinheiro, que foi "cassado, execrado perante a opinião pública e passou parte da vida como um marginal, até ficar provado - dez anos depois - que nada tinha a ver com acusações de envio de dinheiro ilícito ao exterior"