Título: CPI dos Correios volta às origens e reconvoca Marinho
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A8

Depois de três meses de funcionamento, a CPI dos Correios voltou ao ponto de partida e convocou para depor novamente, quarta-feira, o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho. Flagrado recebendo propina de R$ 3 mil, o escândalo envolvendo Marinho acabou levando o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) a denunciar o esquema do mensalão que seria operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Há duas semanas, no entanto, a CPI dos Correios não tem avançado nas investigações com os depoimentos. Exemplo recente foi o do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, que não fez nenhuma revelação à CPI. A sensação de integrantes da comissão é que os trabalhos estão em ritmo desacelerado. Tanto é assim que ontem pela manhã não houve quorum para votar requerimentos de convocação de novos depoentes nem a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico de envolvidos em supostas irregularidades.

"É natural que a CPI não tenha a mesma intensidade do início. Não acho que ela esteja patinando. Mas não dá para as pessoas esperarem uma revelação bombástica todos os dias", justificou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ). "Tem muita briga por holofote e gente querendo aparecer. Isso acaba prejudicando o trabalho mais responsável de investigação, que é a análise da documentação que tem chegado à CPI", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). Governista de carteirinha, a senadora petista argumentou ainda que a CPI perdeu fôlego porque "existem teses que não foram confirmadas, como o pagamento mensal a deputado para votar com o governo".

Integrantes da CPI dos Correios contestam a versão de que a reconvocação de Maurício Marinho para depor representa uma volta à estaca zero. "O Marinho poderá consolidar algumas pistas que deu durante o seu primeiro depoimento à CPI. Ele poderá trazer dados novos e novas informações", observou Eduardo Paes. A maioria das investigações sobre irregularidades nos contratos feitos pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) foi detectada por auditorias realizadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). O tribunal analisa 54 contratos dos Correios e já descobriu "irregularidades graves" em pelo menos 15.

A menos de três meses do fim da CPI, o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) quer apresentar um sub-relatório com os ilícitos detectados nos Correios. "Temos de concluir a análise de alguns contratos como o que trata do transporte aéreo noturno e as agências de Correios franqueadas", disse.

PREÇOS ALTOS

Ontem a Sub-Relatoria de Contratos da CPI dos Correios ouviu o depoimento do ex-diretor de Operações da estatal Maurício Madureira.

Ele negou que soubesse de qualquer irregularidade na empresa, mas admitiu que havia "indícios" de que os preços cobrados pelas empresas responsáveis pela rede postal noturna eram "muito altos".

Ele disse que, já em abril de 2003, criou um grupo de trabalho para fazer uma avaliação preliminar dos preços. Dois meses depois, o então presidente dos Correios, Airton Dipp, teria formado outro grupo para fazer uma revisão geral dos contratos com a assessoria do brigadeiro Venâncio Grossi.

Madureira afirmou que foi indicado para o cargo pelo deputado Pompeo de Mattos (PDT-RJ) e explicou ainda que nunca foi filiado a nenhum partido.