Título: Defesa aposta em grampo com doleiro para livrar Maluf
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Nacional, p. A13

Paulo Maluf, prisioneiro federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, evasão fiscal e formação de quadrilha, aposta em um diálogo de 28 minutos e 9 segundos entre doleiros para reconquistar a liberdade perdida há 13 dias. O diálogo se deu no início da tarde de 11 de julho, uma segunda-feira. Às 13h35 e 23 segundos, Richard Otterloo telefona para Vivaldo Alves, o Birigüi, acusador de Maluf, testemunha-chave que a Polícia Federal e a Procuradoria da República arrolaram contra o ex-prefeito.

A conversa, que terminou às 14h03 e 32 segundos, foi interceptada pela Operação Hércules, que a PF deflagrou para pegar Maluf e seu filho mais velho, Flávio, diretor-presidente da Eucatex, que também está preso.

Os doleiros conversam abertamente sobre a investigação da PF, os Maluf e a situação de Birigüi, que havia prestado depoimento dias antes. Ele revela uma parte dos bastidores do inquérito, diz que foi "muito bem tratado" na PF e que o delegado Protógenes Queiroz, que presidiu a apuração, lhe teria prometido "um presente". A estratégia do ex-prefeito é levar a transcrição do diálogo gravado ao Supremo Tribunal Federal, onde seus advogados planejam entrar com novo habeas-corpus - será a terceira investida consecutiva da defesa, as duas primeiras em vão.

Os advogados tiveram acesso ao diálogo dos doleiros somente depois que o juiz Paulo Alberto Sarno, da 2.ª Vara Federal, determinou à PF que entregasse todos os grampos realizados durante o cerco a Maluf, que durou três meses, de junho a agosto. Na gravação que chamou a atenção da defesa, Birigüi conversa com "homem não identificado" - trata-se de Richard Otterloo, parceiro de negócios do delator de Maluf, citado pelo doleiro Toninho da Barcelona às CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos. A defesa sustenta que os 28 minutos e 9 segundos de conversa agora revelada indicam que Birigüi "foi induzido e pressionado".

"Não temos medo da verdade, mas receio das deturpações fabricadas", desabafou o criminalista José Roberto Batochio. "Já era tempo de abrir essa caixa preta, a PF entrega CDs inacessíveis e os juízes estão engolindo transcrições parciais, das quais constam apenas aquilo que interessa à polícia." Batochio fez uma alerta à Justiça: "Os magistrados devem estar atentos para o fato de que os CDs da PF são truncados, editados de acordo com interesses sabe Deus de quem."