Título: Devastada em 1900 Galveston não espera: foge
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Internacional, p. A14

O furacão Rita ainda estava a mais de 72 horas de distância, girando em fúria no Golfo do México. A loja Target - normalmente congestionada - estava vazia, a não ser por um grupo de policiais comprando carne defumada. O estacionamento fora transformado em uma área reservada para as ambulâncias. Pacientes em macas estavam enfileirados lado a lado no hall do hospital. E a grande praia branca, embora fosse uma tarde de calor quase recorde, estava entregue às gaivotas. Até Mary Adams, a vidente da Seawall Boulevard, estava pondo as malas no Cadillac branco, em frente de seu escritório azul brilhante na praia. Ela estava seguindo o conselho que havia dado a semana inteira: "Saia da ilha o mais depressa possível."

Há 22 anos, Mary havia previsto a chegada do furacão Alicia a essa frágil ilha - e "não era uma previsão tão ruim quanto a de agora", disse ela. "Acho que vai ser um pouquinho pior."

Aqui, onde o Golfo se encontra com a ampla costa do Texas, as lembranças de furacões recuam muito mais que o mês desde que o Katrina devastou o Estado ao lado, a Louisiana, mandando refugiados para o Texas e aterrorizando os moradores de Galveston.

É por isso que esta cidade litorânea de 60 mil habitantes começou a esvaziar rapidamente na quarta-feira depois que funcionários ordenaram a retirada - dos pacientes de hospitais, às 6 horas, e todo o restante da população 12 horas depois.

"Eu estava aqui na época do Carla, em 1961, e do Alicia, em 1983, lembrou Pauline Rios, de 54 anos, enquanto esperava em frente da Igreja Comunitária de Galveston o restante da caravana chegar. "Ficamos esperando o Alicia e dissemos: 'Nunca mais, nunca mais'. O Alicia resultou em 23 tornados, e o furacão era apenas um 3."

Houve "o maior", em 1900, que ficou imortalizado ao lado de outros em um quadro na prefeitura que é em parte testemunha da história e em parte orgulho texano, como se proclamasse: "Vejam só o que passamos."

O furacão de 1900 não tinha nome, mas ganhou fama: é o número 1 na lista do Centro Nacional de Furacões dos mais mortíferos e destruidores furacões que atingiram os EUA entre 1851 e 2004.

Na quarta-feira, uma sóbria Lyda Ann Thomas, prefeita da cidade ameaçada,lembrou como sua família sobreviveu a essa tempestade, que matou mais de 8 mil pessoas e destruiu 3.600 casas.

Eles eram uma das famílias fundadoras da cidade e ficaram depois da devastação, "ajudando a colocar Galveston de pé." Estiveram profundamente envolvidos na construção do dique marítimo que até hoje ajuda a proteger a ilha.

"Acho que o meu comprometimento com esta comunidade é nata", disse ela na tarde de quarta-feira, durante uma exposição sobre o desastre em que as palavras "catastrófico" e "histórico" vieram à tona várias vezes. "Está em meu sangue proteger esta ilha da melhor maneira possível.

Ajuda muito eu ficar calma para isso." Calma é um bem precioso, a esta altura. A tempestade pode atingir a ilha nas primeiras horas de amanhã. Seus ventos já chegaram a 270 km/h e seu olho é enorme e mortal.