Título: Aumento da temperatura oceânica fortalece ciclone
Autor: Thomas H. Maugh II
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Internacional, p. A15

Embora o Golfo do México já tenha visto dois furacões de categoria 5 (a de maior intensidade) neste verão - com ventos de mais de 250 quilômetros por hora -, essas tempestades extremamente poderosas são fenômenos raros que geralmente se dissipam sobre o mar antes de atingir a terra. Desde 1928, somente 28 furacões de categoria 5 se formaram no Oceano Atlântico e, desses, apenas oito atingiram a terra, três deles nos Estados Unidos.

Esses três foram: um furacão sem nome que atingiu a Flórida em 1935; o Camille, que alcançou o Mississippi em 1969; e o Andrew, que atingiu o sul da Flórida em 1992.

O furacão Katrina enfraqueceu para categoria 4, com ventos de pelo menos 211 quilômetros por hora, antes de atingir a costa do Golfo do México no mês passado. O Rita, que deve alcançar a costa do Texas no sábado pela manhã, também perdeu intensidade, baixando ontem para a categoria 4.

Mas a ocorrência de duas dessas tempestades violentas no prazo de um mês provocou uma onda de especulações sobre se isso está relacionado ao aquecimento global ou meramente a mudanças cíclicas na temperatura do oceano.

Ninguém sabe dizer ao certo.

A maioria dos cientistas concorda que temperaturas oceânicas mais elevadas produzem tempestades mais intensas. Os furacões - também conhecidos como ciclones tropicais - só podem se formar se a temperatura do oceano atingir pelo menos 26 graus Celsius até uma profundidade de pelo menos 45 metros. Senão, a água não evapora da superfície do oceano com rapidez suficiente para sustentar a enorme energia requerida pelo furacão.

Quanto mais alta a temperatura, mais vapor de água e energia térmica são liberados no ar, alimentando o ciclone.

Outros fatores, como os ventos em certas altitudes, podem interferir na formação e estabilidade de um furacão, mas a temperatura da água é a força motriz determinante.

Atualmente, as águas do Golfo do México registram, em média, cerca de 27 graus, fornecendo uma força motriz poderosa para o Rita, segundo o meteorologista T. N. Krishnamurti, da Universidade Estadual da Flórida.

Da mesma forma, as águas no Atlântico tropical estão cerca de 1 grau mais quentes do que estavam na década de 1970, afirma o especialista em furacões Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts.

Em artigo publicado na revista Nature no fim de julho, Emanuel argumentava que o poder destrutivo dos furacões atlânticos quase dobrou nesse mesmo período, apesar de o número médio de ciclones tropicais em todo o mundo ter permanecido estável em cerca de 90 por ano.

Suzana Camargo, uma especialista em ciclones da Universidade de Colúmbia, reforça o argumento de Emanuel com base em seus próprios estudos sobre tufões no Pacífico. Quando as temperaturas da água sobem alguns graus em conseqüência dos eventos cíclicos do fenômeno El Ni¿o, diz ela, o número de tufões não aumenta, mas sua intensidade sim.

Essas revelações deixam sem resposta a pergunta sobre o que está causando a elevação da temperatura no Atlântico.

Emanuel acha que isso se deve à atividade humana - o aquecimento global causado pela liberação de gás carbônico e outros gases relacionados à atividade industrial que retém o calor do sol, elevando a temperatura da Terra.

Mas George Taylor, climatologista do Estado de Oregon, contrapõe que os registros de furacões passados refletem um aquecimento e resfriamento cíclico das águas oceânicas.

Taylor observa também que os modelos de aquecimento global prevêem aumentos nas temperaturas oceânicas principalmente nas latitudes mais setentrionais e mais meridionais, e não nas regiões oceânicas intermediárias onde os furacões são gerados.