Título: Reunião não encerra duelo alemão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Internacional, p. A16

O chanceler social-democrata Gerhard Schroeder e a líder democrata-cristã Angela Merkel mantiveram ontem seu primeiro "contato exploratório". Não chegaram a um entendimento sobre a formação da "grande coalizão" social-democrata-democrata-cristã que daria um governo estável à Alemanha. Mas deixaram a porta aberta para novas conversas. A coalizão democrata-cristã venceu os social-democratas nas eleições de domingo, mas o resultado, apertadíssimo, não deu a Merkel a maioria necessária para formar um governo. Ela disse ao fim do "encontro quebra-gelo" que pretende conversar mais com o rival social-democrata. Mas confirmou:existem "claras diferenças" entre o Partido Social-Democrata (SPD) e a União Democrata-Cristã (CDU). Ambos, Merkel e Schroeder, insistem em liderar qualquer futura coligação.

Os analistas são unânimes em afirmar que as negociações entre ambos vão levar semanas. Merkel disse que os dois voltarão a se encontrar quarta-feira.

Em entrevista depois do encontro, o presidente do SPD, Franz Muentefering, disse que os social-democratas estão vivamente interessados em novas e detalhadas conversações com os democrata-cristãos. Contudo, fez uma ressalva: Schroeder deve manter a chefia do governo.

Em defesa dessa tese, Schroeder alega que o SPD, com 222 cadeiras no Parlamento, é o maior partido político da Alemanha. Os democrata-cristãos fizeram 225 cadeiras. Mas Schroeder alega que eles se dividem em duas correntes, a CDU, de Merkel, e a CSU (União Social-Cristã da Bavária), de Edmund Stoiber. "É óbvio, portanto, que somos o maior partido da Alemanha", insiste Schroeder na defesa de seu direito de continuar chefiando o governo.

Esse argumento irrita Merkel e Stoiber. Eles sustentam que a CDU e a CSU são aliados há décadas e constituem, na verdade, um único e sólido bloco político. E juntos receberam maior número de votos que os social-democratas.

Friedbert Pflueger, um dos dirigentes da CDU, acusou a direção do SPD de apresentar um comportamento golpista. Outro líder democrata-cristão, o ex-ministro do Interior Wolfgang Schaeuble, acrescentou que os social-democratas estão demonstrando "uma evidente falta de cultura democrática".

Tanto a CDU quanto o SPD vêm tentando cortejar pequenos partidos com representação no plenário para obter maioria no Parlamento. Mas ambos afastaram já qualquer possibilidade de uma aliança com o Partido da Esquerda, uma frente política que inclui dissidentes social-democratas e antigos comunistas da ex-Alemanha Oriental. Os alvos de Merkel e Schroeder são os verdes e os liberais. Mas essas duas agremiações têm ideologias incompatíveis e dificilmente integrariam um bloco onde teriam de atuar em conjunto.