Título: Ruídos em escolas deixam especialista em alerta
Autor: Claudia Ferraz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Vida&, p. A19

Seria fantástico se os barulhos do dia-a-dia fossem como nos gibis, escritos em quadrinhos - cheios de "Poing! Crash! Pow! Bum! Pof!" - e só. Mas eles estão por toda a parte e são praticamente inevitáveis em alguns ambientes, como pistas de aeroportos, canteiros de obras e escolas. Sim, as escolas, que deveriam ser um lugar tranqüilo para a concentração dos alunos, têm preocupado educadores e especialistas pelos altos índices de ruídos registrados. Uma pesquisa feita pela Secretaria Municipal da Saúde em escolas da rede pública de São Paulo, sob a supervisão da fonoaudióloga Claudia Taccolini Manzoni, registrou índices surpreendentes. Ao comparar com o nível recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para uma sala de aula (de 35 a 45 decibéis), a diferença é mais que o dobro: de 78 a 92 decibéis. "Mudar o comportamento pode contribuir para diminuir os sintomas físicos e psicológicos", aconselha Claudia. Durante os intervalos das aulas, a algazarra é tanta que a barulheira chega aos 110 decibéis, algo que, após meia hora, pode começar a oferecer riscos à saúde.

O que mais preocupa os especialistas é que, além dos sabidos riscos à audição e ao bem-estar, barulho demais pode provocar vertigens e insônia. Além disso, pode mudar o ritmo cardíaco e reduzir a produtividade física e mental. Ou seja, voltar a estudar após esse tipo de exposição parece mais difícil que se imagina. A falta de atenção da classe pode, nesses casos, não ser apenas reflexo do mau comportamento dos alunos, mas uma questão física mesmo.

A dificuldade está em achar o remédio: um pouco de silêncio. Saber aproveitá-lo e reduzir o turbilhão de sons no cotidiano ajuda a melhorar o ambiente de trabalho ou de estudo e o aconchego de casa. Segundo especialistas, os efeitos do silêncio trazem tranqüilidade e autoconhecimento. E o segredo dessa indicação é aprender a perceber o silêncio em meio à quantidade excessiva de ruídos. Para isso, é preciso reconhecer os sons, avaliar porque eles incomodam e mudar o comportamento.

A audição, 24 horas em alerta, absorve de diversas maneiras as variações do som, seja a freqüência, a intensidade ou a duração. Os sons que são desagradáveis para uns podem ser agradáveis para outros. Contudo, há um limite. De acordo com a OMS, até 55 decibéis é um nível aceitável de ruído (ver gráfico ao lado). A partir daí, o corpo já começa a reclamar. Para se ter uma idéia, nem a sala dos professores escapa. Naquele levantamento feito em escolas de São Paulo, a média de barulho registrada ficou em 90 decibéis, o equivalente ao incômodo latido de um cachorro furioso ou de um piano desafinado.

Segundo a fonoaudióloga Claudia Taccolini Manzoni, é preciso fazer os ambientes menos ruidosos. "O barulho não precisa ser forte para trazer prejuízo à saúde e ao desempenho", diz ela. "Dependendo da pessoa e da atividade, o desconforto nos ouvidos irrita e dá dor de cabeça."

A situação, que afeta a atenção de todos, teve solução no Colégio Santo Américo. A alternativa foi o ruidômetro, que mede o nível de barulho de acordo com a percepção das crianças. Quando a classe está falando muito alto, alguém vai até o cartaz e muda. "Automaticamente, os colegas abaixam a voz", explica a professora da 1ª série, Débora Regina Dip.

O ouvido das crianças e as cordas vocais dos professores agradecem. "Antigamente a professora tinha de berrar", diz Bruna Delgado Arid, de 7 anos. Quando os alunos gritavam muito, Gustavo Gomes Quintas, de 7, ficava com dor de cabeça. "Foi bom. Agora falam mais baixo."

Para preservar o sossego público, o Programa Silêncio Urbano (Psiu), da Prefeitura, controla a poluição sonora na cidade. Os bairros que mais recebem reclamações são Itaim-Bibi, na zona sul, e Pinheiros, na oeste. Mais de 55% delas são contra bares.