Título: BC já prevê inflação abaixo da meta
Autor: Gustavo Freire e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, revelou que as projeções de inflação do Banco Central para este ano já estão abaixo da meta de 5,1%. É a primeira vez que isso acontece desde outubro do ano passado, quando o Copom anunciou que passaria a trabalhar com essa meta em 2005. Em junho, a expectativa ainda era de que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terminaria o ano em 5,8%. O tom positivo do documento alimentou a expectativa de que o processo de redução das taxas de juros, iniciado na semana passada, quando o Copom reduziu a taxa Selic de 19,75% para 19,50% ao ano, deve continuar. Apesar disso, o Copom não deu uma sinalização clara sobre uma nova redução da taxa básica de juros na próxima reunião, em outubro.

O otimismo veio calcado no bom comportamento da inflação em agosto e na reavaliação para baixo das previsões de reajuste de tarifas públicas e itens com preços monitorados pelo governo. Mesmo com essa leitura, o mercado não reagiu ontem com o mesmo otimismo: a Bovespa fechou em queda de 0,51% e o dólar comercial apresentou ligeira alta de 0,04%, cotado a R$ 2,276.

De acordo com a ata, a queda da inflação foi puxada pelo barateamento dos preços de alimentos e pelo impacto da valorização do câmbio sobre produtos importados ou negociados com o exterior. Além disso, o comportamento positivo dos preços do gás de botijão e das tarifas de energia elétrica ajudaram a contrabalançar os efeitos do reajuste da gasolina anunciado pela Petrobrás neste mês.

Outro ponto destacado pelo Copom foi o de que há mais espaço para o País crescer sem inflação. "A atividade econômica deverá continuar em expansão, mas em ritmo condizente com as condições de oferta, de modo a não resultar em pressões significativas sobre a inflação", prevê a ata.

A razão para o otimismo é o crescimento dos investimentos, que reforçam a capacidade da economia de atender ao aumento da demanda. A ata ressalta que, no segundo trimestre, houve expansão de 4,5% da taxa de investimento e elevação de 28,3% das importações de máquinas e equipamentos para a indústria.

O Copom reduziu também sua estimativa de inflação para 2006, que ficou ainda mais abaixo da meta de 4,5%. No Relatório de Inflação do Banco Central de junho, a projeção era de 3,7%. A ata destaca que também caiu a previsão do mercado para a inflação de 2006, de 4,98% para 4,8%, porcentual ainda superior a meta.

Apesar do otimismo com a inflação, o Copom não deu pistas de um novo corte dos juros. "O Copom decidiu acompanhar atentamente a evolução do cenário prospectivo para a inflação até a sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", afirma a ata.

'DE FORMA NATURAL'

Uma dúvida levantada pelo documento é a possibilidade de que uma parte dos resultados favoráveis da inflação nos últimos meses possa ser decorrente de fatores pontuais, podendo, portanto, ser revertida no futuro. Além disso, a ata ressalta a importância "da manutenção de uma postura mais ativa da política de juros".

Em outro trecho, o documento destaca que o desafio da política de juros será garantir a consolidação das conquistas alcançadas no combate a inflação. Ao mesmo tempo, indica que a redução de 0,25 ponto porcentual na taxa Selic decidida na reunião passada não comprometerá os avanços econômicos obtidos dos últimos meses.

"O Copom avalia que a atuação cautelosa da política monetária tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação convirja para a trajetória de metas", diz o texto. Os diretores do Banco Central acreditam que há espaço para redução dos juros no futuro. Ressaltam, porém, que isso acontecerá de forma natural.

O Copom também se mostrou cauteloso em relação às cotações internacionais do petróleo. "Embora tenha havido recuo considerável em relação aos valores máximos, os preços continuam em níveis elevados, e um dos temores é de que se sustentem por mais tempo em um nível acima do que vinha sendo prognosticado", afirma a ata. Mesmo assim, os diretores do Banco Central descartam outro aumento nos preços domésticos da gasolina neste ano.