Título: G-20 tem de ver que 'comércio é rua de mão dupla', avisa Rato
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, Rodrigo de Rato, atribuiu ontem ao G-20 uma importante parte da responsabilidade no sucesso ou fracasso da Rodada Doha, que será determinado pelos resultados da próxima reunião ministerial da Organização Mundial de Comércio, em dezembro, em Hong Kong. "Um grupo de países que pode ser definido como o G-20 é um fator-chave e precisa entender que liberalização de comércio é uma rua de duas mãos", afirmou Rato, ao responder a uma pergunta do Estado sobre as conseqüências de um fracasso em Hong Kong (mais informações na pág. B9). Foi a segunda vez em menos de uma semana que o dirigente do Fundo afirmou que, além da redução de subsídios agrícolas que é esperada dos países ricos, um desfecho positivo de Doha depende da disposição de nações emergentes como o Brasil e a Índia, que lideram o G-20, terão para abrir mais seus mercados de bens e serviços.

"O que vai acontecer em Hong Kong é muito importante não só porque o comércio é uma força positiva, mas porque o protecionismo é uma força negativa", disse ele sexta-feira em um seminário sobre comércio que foi um dos pontos altos de uma conferência de três dias organizada pelo ex-presidente americano, Bill Clinton, em Nova York. Rato falou depois do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que explicou a estratégia que adotou em seu governo de expandir não apenas as exportações mas também as importações, para aumentar a eficiência e a competitividade da economia brasileira.

"Creio que o presidente Cardoso foi muito claro em dizer que não se trata só de o Brasil vender mais, mas também de o Brasil deixar que outros vendam mais coisas no Brasil, e isso nem sempre é fácil, como ele tão bem sabe".

Em Nova York, Rato foi claro na defesa da necessidade de concessões por parte dos grandes países emergentes. "Este é um momento crucial de liderança para as grandes economias como os Estados Unidos, Europa e Japão, mas também para economias de renda média", afirmou. " Seria muito difícil, diria mesmo que não seria possível, se o G-20 não estivesse disposto a chegar a um compromisso. Este requer que as grandes economias reduzam os subsídios e o protecionismo em todas as culturas, mas demanda também que as economias de renda média abram os mercados de manufaturas e os mercados de serviços."

O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, sublinhou o mesmo ponto ontem. Ele disse que o crescimento das economias e do emprego nos países em desenvolvimento não depende só de exportar mais para os países ricos, mas também para outros mercados em desenvolvimento.

A nova ênfase dos discursos dos dirigentes das duas mais importantes organizações financeiras multilaterais na abertura dos mercados de bens e serviços do G-20 aparece e no momento em que europeus e americanos parecem estar aproximando suas posições sobre a redução dos subsídios agrícolas, que é desde o início o elemento fundamental de um novo acordo de liberalização do comércio global.