Título: Bird dará menos verba e mais ajuda técnica
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Economia & Negócios, p. B5

O novo presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, acenou com menos dinheiro e mais assistência técnica para países de renda média, como o Brasil. Países que dependiam do Bird para créditos em condições mais favoráveis, observou, "são cada vez mais capazes de encontrar muitas outras fontes de financiamento, tanto de recursos próprios quanto de empréstimos comerciais". Wolfowitz falou como se essa nova política fosse uma demanda dos países de renda média. O Bird, segundo ele, terá de se ajustar às necessidades desses países e isso significará, entre outras coisas, reduzir o tempo e as complicações no trabalho com o banco. "Acho que o que esses países recebem de nós, e espero que continuem a receber, é um nível de especialização e de conhecimento que não se obtém num empréstimo normal."

Wolfowitz cumpriu ontem, pela primeira vez, o ritual da entrevista coletiva que precede a assembléia anual conjunta do Bird e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao estrear, ele mostrou ter absorvido a idéia de que as duas instituições devem oferecer às economias de renda média programas com menos dinheiro ou sem dinheiro. A idéia tornou-se popular nos Estados Unidos, há alguns anos, depois de apresentada ao Congresso pelo economista Alan Meltzer.

Brasil e outros países de renda média discordam e pretendem continuar com acesso aos empréstimos do Bird e do FMI. De toda forma, a mudança insinuada por Wolfowitz não ocorreria de um dia para outro e o banco ainda está envolvido em vários projetos no País.

Mas idéias semelhantes à de Meltzer continuam na agenda e os EUA, com apoio da Alemanha, Suíça e outros países europeus, têm defendido no FMI a adoção de programas sem financiamento para prevenção de crises. Wolfowitz dedicou a maior parte de seus comentários iniciais aos programas de combate à pobreza, especialmente na África. Ele afirmou que falta passar das intenções aos planos, à ação e aos resultados.

O próprio Bird ainda não encontrou o caminho para perdoar as dívidas dos países mais pobres. Se as dívidas forem simplesmente eliminadas, sem outras providências, a Agência para o Desenvolvimento Internacional, especializada no financiamento subsidiado aos mais pobres, ficará sem dinheiro para continuar operando. Essa agência é um dos órgãos do Grupo do Banco Mundial.

O presidente do Bird insistiu também na importância do combate à corrupção, que reduz a eficiência dos governos financiados e consome dinheiro dos programas. Esse combate, afirmou, será uma das prioridades da instituição. Mas, afirma, é preciso agir não só nos países financiados: "Para cada receptor de suborno num país em desenvolvimento há algum pagador - freqüentemente num país desenvolvido - que é preciso responsabilizar", disse Wolfowitz.

Ele não mencionou que em algumas economias a maior parte da propina já foi nacionalizada, com pagadores e receptores dentro do mesmo país.