Título: Demanda em alta exige aumento da produção de cana-de-açúcar
Autor: Eduardo Magossi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/09/2005, Economia & Negócios, p. B16

O setor sucroalcooleiro mundial está em vias de atravessar uma grande mudança no fluxo de seus principais produtos, o açúcar e o álcool. E o Brasil, como responsável por 40% das exportações mundiais de açúcar, tem importantes decisões a tomar em um curto espaço de tempo. O País precisa, por exemplo, aumentar sua produção de cana-de-açúcar para atender a estes dois mercados, que estão com a demanda em alta neste momento. "A partir de agora, por meio do álcool, os mercados de açúcar e de energia ficaram vinculados, e como a busca por energia é sempre mais importante, o fluxo de açúcar pode correr perigo", disse o presidente da Coimex Trading Suisse AS, Patrick Zen-Ruffinen, durante seminário realizado esta semana - parte da tradicional Semana do Açúcar, que a cada dois anos reúne participantes do setor sucroalcooleiro mundial em São Paulo. Segundo Zen-Ruffinen, até agora vemos o álcool combustível como um subproduto do açúcar, mas isto vai ser alterado e o açúcar vai passar a ser um subproduto do álcool.

"A alta dos preços do petróleo criou uma forte demanda por álcool combustível, em um momento em que os estoques mundiais de açúcar estão em queda, o que é preocupante", afirmou Jonathan Kingsman, consultor britânico do setor sucroalcooleiro. Ele explica que, no caso do açúcar, este será o terceiro ano consecutivo em que a produção mundial apresenta déficit. "Em 2005/06, o déficit de açúcar será de 2,21 milhões de toneladas", disse. Sua estimativa mais recente é de uma produção mundial de 146,86 milhões de toneladas, ante um consumo de 149,07 milhões de toneladas.

Ao lado do déficit de produção, Kingsman vê uma redução dos estoques mundiais do produto, resultado da própria liberalização do setor. "Aos poucos, este setor está saindo das mãos das empresas estatais, que costumam atuar com estoques estratégicos, e indo para as empresas privadas, que buscam lucro e não planejamento de longo prazo", disse.

Os preços do açúcar no mercado internacional já estão influenciados por estes fatores, e saltaram em cerca de um ano de 7,50 centavos de dólar para 10,50 centavos de dólar por libra. "E, daqui a 12 meses, estarão acima dos preços registrados neste momento", prevê Kingsman. O mercado trabalha com um intervalo de preços para 2006 entre 9,50 centavos e 13,30 centavos de dólar por libra. O fator de suporte para os preços é o crescente mercado de álcool combustível.

Além do crescente mercado doméstico de álcool, a manutenção do preço do petróleo em patamares mais elevados tem criado novas demandas para o combustível renovável também em outros países. "Para atender estes mercados, o Brasil vai ter de iniciar a moagem da próxima safra bem mais cedo", disse Kingsman. Ele acredita que as exportações de álcool do País devem ser maiores que o previsto inicialmente pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), de 1,8 bilhão de litros.

O consultor acredita que as vendas externas devem ultrapassar os 2 bilhões de litros. "O Brasil vai ter que encontrar um caminho entre ser o maior exportador de açúcar do mundo, atender o mercado interno de carros bicombustíveis e exportar álcool", disse.