Título: Governo faz esforço de guerra para evitar derrota
Autor: Tânia Monteiro e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Nacional, p. A4

Desde que resolveu interferir na eleição para presidente da Câmara e apostar na candidatura do ex-ministro e deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), o governo mobilizou a base parlamentar em um esforço de guerra para evitar o desgaste da segunda derrota consecutiva. Uma vitória poderia abrir caminho para reconstruir uma maioria segura na Câmara. A derrota seria um revés a mais no momento em que enfrenta uma gravíssima crise política e a fragilidade do presidente Lula.

Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que chegou a se lançar candidato e depois desistiu, defende a movimentação do governo na Câmara. "Seria hipocrisia por parte do governo ficar sentado esperando a morte chegar", diz ele.

Tudo que o governo quer evitar é repetir a derrota de fevereiro, quando o PT, dividido, perdeu o comando da Câmara para Severino Cavalcanti (PP-PE). "A eleição na Câmara é um momento absolutamente decisivo para o governo. Mais ainda que a eleição anterior. É grave o governo ser derrotado duas vezes. Mas a sucessão, em vez de apaziguar, radicalizou a crise, com uma candidatura temerária como a de Aldo Rebelo, com todo respeito que tenho a ele", diz o deputado Moreira Franco (PMDB-RJ), da ala oposicionista.

Moreira argumenta que o fato de Aldo ser testemunha de defesa do ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP), que responde a processo por falta de decoro parlamentar no Conselho de Ética, pode dificultar a adesão à candidatura apoiada pelo governo. "Como a testemunha de defesa de um dos principais acusados presidiria a Câmara no momento em que os processos estarão sendo concluídos? Lançar a candidatura de Aldo não me parece atitude sensata", diz Moreira.

Na busca dos votos da maior fatia possível dos 513 deputados-eleitores, a principal tarefa dos governistas é justamente dobrar o PMDB, com quem estava sendo negociada a candidatura do presidente do partido, Michel Temer (SP). Os peemedebistas ficaram irritados com o lançamento da candidatura de Aldo e abriram a possibilidade de apoio ao candidato da oposição, José Thomaz Nonô (PFL-AL), apoiado pelo PSDB.

Um peemedebista resumiu a escolha de Aldo como "um festival de traição", já que naquela mesma quinta-feira, segundo ele, alguns petistas estiveram na casa de Temer para negociar uma candidatura conjunta. "O ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais) estava negociando conosco, tentando buscar um entendimento. De repente, o governo muda tudo. Foi uma noite dos punhais", diz o peemedebista.