Título: Lula libera R$ 500 milhões para eleger presidente da Câmara
Autor: Tânia Monteiro e Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou pessoalmente na negociação para fazer o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) conquistar a presidência da Câmara na eleição marcada para quarta-feira. Na tentativa de pôr Aldo na cadeira ocupada por Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou quarta-feira ao mandato para escapar da cassação, o governo vai liberar R$ 500 milhões para o atendimento de emendas parlamentares, apesar do discurso da contenção de gastos. A ordem partiu de Lula, que ontem também se reuniu com os três ministros do PMDB e pediu "empenho máximo" para eleger Aldo. "Não podemos perder desta vez", disse Lula aos ministros Silas Rondeau (Minas e Energia), Hélio Costa (Comunicações) e Saraiva Felipe (Saúde), referindo-se à fragorosa derrota de fevereiro, quando o governo, dividido, perdeu o comando da Câmara para Severino.

Agora, é tudo ou nada para o Planalto. Motivo: o desfecho da crise política depende da eleição de quarta-feira. A avaliação é de que a crise vai se agravar muito se o governo for derrotado de novo. "O governo não pode ficar parado diante do que o PFL tem feito na Câmara, no Senado e nas CPIs", disse o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. "A postura deles tem sido a de esticar a crise. Não de apurar e resolver o problema."

CAÇA AOS VOTOS

Preocupado com as candidaturas de José Thomaz Nonô (PFL-AL), que conta com aval do PSDB, e do presidente do PMDB, Michel Temer (SP), Lula solicitou aos ministros peemedebistas que monitorem os deputados na caça aos votos para Aldo. Ex-ministro da Coordenação Política, Aldo entrou no páreo na quarta-feira à noite, menos de 24 horas depois do lançamento da candidatura do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), que foi obrigado pelo Planalto a desistir.

"Não pode haver divergências nem rachas. Fechem com o nome da base aliada", insistiu Lula com os ministros. Rondeau, Costa e Saraiva Felipe garantiram o apoio de metade dos 87 deputados da bancada do PMDB para Aldo. A outra fatia é controlada por Temer, que ontem ignorou os afagos do Planalto e se manteve na disputa.

"Ninguém do governo pediu nem nós garantimos que Temer vá retirar o nome para apoiar Aldo", contou um dos ministros presentes à reunião com Lula. No Planalto, o sentimento é de muita apreensão. Apesar dos cálculos oficiais de que Aldo poderia contar com aproximadamente 280 a 300 votos, avalia-se que Temer pode acabar apoiando Nonô na última hora, pondo tudo a perder.

Wagner telefonou ontem para Temer, a pretexto de cumprimentá-lo pelo aniversário de 65 anos. Diplomaticamente, o peemedebista disse estar disposto ao diálogo. "O PT já mostrou generosidade, abrindo mão de Chinaglia", comentou o líder do PT, Henrique Fontana (RS), jogando indireta para Temer.

Dez deputados prometem concorrer à cadeira de Severino. Na tarde de ontem, Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP) registrou sua candidatura, provocando novo racha na base aliada. "A Câmara não pode ser nem mais um minuto do governo Lula", disse Fleury.

Wagner afirmou que o governo cobrará apoio dos ministros da base aliada, do PMDB ao PP de Severino, que também tem candidato próprio. No Planalto, a afirmação do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC) - para quem "a crise e a corrupção têm o nome de Lula" - foi considerada uma declaração de guerra. "Temos de reagir, senão a própria base se desarma", argumentou Wagner. No seu diagnóstico, a candidatura de Aldo diminui arestas, embora enfrente resistências até mesmo na bancada petista.

"Se o Lula estivesse procurando deputados ainda passaria, mas ir atrás de ministro não dá", ironizou Ciro Nogueira (PI), corregedor da Câmara e candidato do PP à vaga de Severino. "Ministro não tem voto."