Título: Oposição investe na adesão de Temer a Nonô
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Nacional, p. A5

O lançamento da candidatura do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para a presidência da Câmara, com o apoio do PT, PCdoB, PSB e da ala governista do PMDB, irritou o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que marcou para hoje, em Brasília, encontro com o candidato do PFL, deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL). Será feita análise do quadro e, caso Temer desista de sua candidatura, a oposição espera contar com apoio de seu grupo no PMDB, partido que, mais uma vez, chega rachado à disputa pela presidência da Câmara. Os votos dos 87 peemedebistas estão sendo cobiçados tanto pelos partidários de Aldo quanto pelos de Nonô. Ontem, em Maceió, Nonô se encontrou com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que reafirmou apoio do PSDB. Antes, Nonô conversou por telefone com Temer e o cumprimentou pelo aniversário. "O presente quem quer sou eu", brincou Nonô, praticamente pedindo o voto de Temer de quem já foi vice-líder.

Paralelamente, deputados do PFL, como o líder da bancada, Rodrigo Maia (RJ), e o líder da minoria, José Carlos Aleluia (BA), avançam nas conversas individuais tentando apoio da ala de oposição do PMDB ao governo. Também tentam colar a candidatura de Aldo ao Palácio do Planalto. "Aldo Rebelo só tem chance se o presidente interferir muito", completou Rodrigo Maia, para quem é impossível desvincular o candidato do PCdoB ao governo.

O deputado Aleluia foi além: não só denunciou que a candidatura de Aldo Rebelo significa a interferência direta de Lula na eleição como também lembrou o fato de o ex-ministro ser testemunha de defesa do deputado José Dirceu no Conselho de Ética. "Ele é o candidato do Zé", alfinetou o líder do PSDB, deputado Alberto Goldman (SP), referindo-se a Dirceu. Em contrapartida, aliados de Aldo tentam neutralizar sua imagem de chapa branca. Além do PMDB, definiram como alvo o PPS, PDT e PV, que só se definem na data da eleição, quarta-feira.

Numericamente, a candidatura de Aldo não teria avançado, na avaliação dos partidos de oposição. Teoricamente ele entra na corrida com 118 votos do PT, PCdoB e PSB. Mesmo assim, os menos otimistas calculam que ele perderia 15 votos no PT. No PMDB, o cálculo é de que teria, no mínimo, o apoio de 35 peemedebistas.

A expectativa é de que a decisão ficará para o segundo turno e, ontem, os deputados Luiz Antônio Fleury (PTB-SP) e João Caldas (PL-AL) oficializaram o registro de suas candidaturas na Mesa. Se for para valer, uma dessas candidaturas, associadas ao baixo clero, poderá ir para o segundo turno. Repetiria-se, assim, o fantasma da eleição de Severino Cavalcanti, que correu por fora e acabou vencedora.

A posição do PL, PP e PTB - três partidos chamuscados por denúncias de corrupção - é uma incógnita. Juntos reúnem 145 votos.