Título: Renan defende 'perfil amplo' da candidatura de Aldo
Autor: Rita Tavares e Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Nacional, p. A6

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defendeu ontem publicamente a candidatura do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) como nome de consenso para a disputa da presidência da Câmara. Disse ainda que o deputado Michel Temer (PMDB-SP), candidato de seu partido à presidência, tem o perfil para assumir o cargo, mas necessitaria do apoio de outras legendas para viabilizar sua vitória. "O fundamental é que nós tenhamos um presidente da Câmara que seja institucionalmente um presidente com um perfil amplo. O Aldo tem esse perfil", afirmou. Para não colocar ainda mais lenha na fogueira, já que seu posicionamento pode provocar uma crise em seu partido, Renan ponderou: "O PMDB tem um grande candidato, que é o Michel Temer. Mas a candidatura do Michel precisaria ampliar, com PFL, PSDB, com o PT. Eu mesmo trabalhei para que a candidatura ampliasse", disse, após participar pela manhã de um ato pelo desarmamento, em São Paulo

O senador, que quebrou a tradição ao se meter na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, defendeu cautela. "Se ela (a candidatura de Temer) não ampliar, temos que reconhecer as circunstâncias e, quem sabe, em um outro momento ela não acontecerá."

A posição de Renan, que provocou ontem reações exaltadas por parte de integrantes de seu partido e do próprio Temer, tem alvo certo. O senador quer trabalhar na escolha de um candidato que possa derrotar o nome escolhido pelo PSDB e pelo PFL: o presidente interino, José Thomaz Nonô (PFL-AL). Isso porque, numa eventual vitória de Nonô, ele ganharia força em Alagoas como nova liderança política nacional e ofuscaria a imagem de Renan dentro de seu Estado.

Questionado sobre qual dos dois nomes - Aldo ou Temer - seria o melhor para enfrentar Nonô, ele afirmou: "São equivalentes." Mas mandou um recado para o companheiro de partido: "Se (a base de apoio) não ampliar, o próprio Michel precisa entender, e o partido também, que precisamos encontrar um nome com o perfil que atenda às exigências da sociedade e da instituição."

Do lado oposto, o deputado Alberto Goldman, líder do PSDB na Câmara, que também participou do ato em São Paulo, atacou a escolha de Aldo como candidato do governo. Para ele, sua vitória pode representar a continuidade do grupo da base aliada ao governo que esteve no centro do escândalo do mensalão - já que, segundo ele, a escolha de seu nome foi feita com a participação do PP e do PL.

Para Goldman, Nonô é o candidato ideal para a presidência. "Nonô é o candidato natural. Ele já deu mostras de que conduz a casa com eficiência na ausência do presidente afastado Severino Cavalcanti."

Do lado de quem defende Aldo, o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) afirmou que a desistência da candidatura do líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), foi um gesto positivo para uma possível vitória. "Não pode haver divisão entre os partidos da base."

O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que também compareceu ao ato, afirmou que o partido definirá apoio na terça-feira. Ele criticou ainda o discurso dos que defendem o consenso: "O consenso é para a ditadura. O debate faz parte da democracia. Precisamos discutir, pois senão vamos voltar a assistir o filme de terror que foi a última eleição da Câmara."