Título: Abandonada, Houston espera pelo furacão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Internacional, p. A22

Com os primeiros ventos fortes do furacão Rita agitando as copas da árvores, Houston, a metrópole texana, oferecia o estranho cenário de uma cidade abandonada pela maioria de seus 4 milhões de habitantes na tarde de ontem, apenas algumas horas antes da chegada das primeiras chuvas trazidas pela tormenta. Nos subúrbios, alguns dos habitantes que optaram por ficar e os que desistiram de deixar a cidade depois de enfrentar o caos criado por engarrafamentos de centenas de quilômetros dedicavam-se a atividades tão corriqueiras como cortar as grama dos jardins ou passear com seus cachorros sob um calor de mais de 35 graus e um estranho céu azul ainda visível no oeste e no norte da cidade. No elegante condomínio fechado de Hilshire Park, várias famílias tentaram deixar a cidade na quinta-feira à noite, mas acabaram voltando para casa. "Não é uma questão de raça ou classe", disse Jason Griffin, de 29 anos que fez meia-volta e voltou a Houston com a mulher e o filho de dois meses depois de passar cinco horas num congestionamento na Rodovia 10, que leva à Louisiana. A escolha de Griffin acabou por ser a mais acertada, pois com a virada do furacão para leste, a área na qual ele buscava refúgio poderá acabar mais castigada pelo impacto do furacão.

No centro, o intenso trânsito habitual de carros dos fins de tarde numa cidade onde a gasolina já custou menos do que água mineral reduziu-se ao movimento eventual de uns poucos automóveis. Os clientes dos hotéis, todos superlotados, eram avisados sobre a redução dos serviços até segunda ordem, incluindo os das camareiras, e suspensão por pelo menos dois dias dos serviços de transporte.

Este foi imposto não apenas pelo fechamento do aeroporto no início da tarde, como pela falta de gasolina, um conceito complemente alheio a Houston, a capital da indústria americana de petróleo e provavelmente o único lugar dos EUA onde, a despeito da escassez, ainda se encontrava gasolina ontem à tarde por menos de US$ 3 por galão de 3,7 litros.

As lojas de conveniência nos postos de gasolina na entrada da cidade eram os únicos estabelecimentos comerciais abertos no início da noite. Os demais amanheceram fechados, por falta de funcionários.

Embora Rita tenha se reduzido à categoria 3, ameaçava causar danos consideráveis e, em algumas áreas, como Galveston e Port Arthur, comparáveis com os estragos que o Katrina provocou em sua devastadora visita a Flórida, Alabama, Mississippi e Louisiana, há pouco mais de vinte dias.

Uma das preocupações imediatas das autoridades era esvaziar as estradas congestionadas para não ter milhares de pessoas em campo aberto e expostas aos ventos do furacão, durante a madrugada. As precauções para evitar a repetição da catástrofe provocada pela tardia e incompetente resposta do governo federal ao furacão Katrina incluíram a mobilizaram das Forças Armadas para posicionar forças, suprimentos e equipamentos. Recursos a serem mobilizados tão logo o furacão passe e as condições permitam as operações de socorro.