Título: Otimismo volta a dominar mercado
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

A onda de otimismo dos investidores em relação aos países emergentes trouxe bons resultados para o mercado brasileiro ontem. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que vive o melhor momento da história, fechou o pregão com valorização de 2,01%, em 31.294 pontos, com volume de R$ 2 bilhões. Foi o quarto recorde do mês. Em um ano, a Bolsa subiu 36,4%; em 2005, 19,46%; e em setembro, 11,59%. O desempenho do mercado acionário ontem também foi influenciado pelos rumores de que a Telecom Italia está próxima de comprar a Brasil Telecom. As ações preferenciais da empresa subiram 7,03% e as ordinárias, 11,75%.

O risco país, que reflete a confiança do investidor estrangeiro no Brasil, também repercutiu a euforia do mercado: caiu 2,2%, para 355 pontos - o menor desde outubro de 1997. Os números positivos devem-se à ampla liquidez do mercado mundial, aliada aos bons fundamentos econômicos do País, com inflação perto da meta, atividade crescente, contas externas confortáveis e reservas ampliadas, resume o economista-chefe da Gap Asset Management, Alexandre Maia.

Segundo ele, boa parte do movimento da Bovespa pode ser explicada pela entrada de capital externo. Só em setembro, até o dia 20, o saldo de investimento estrangeiro somava R$ 671,96 milhões. No ano, o saldo acumulado é de R$ 3,56 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pela Bolsa. "O investidor estrangeiro ignorou a crise política e aproveitou o momento para comprar papéis com preços baixos. Já o doméstico se desfez de suas posições, vendendo as ações, e agora começa a voltar", lembra o diretor da Deutsche Ixe, Roberto Serwaczak.

Para o economista do BankBoston, Odair Abate, a Bolsa já poderia ter rompido a barreira dos 30 mil pontos há mais tempo, se não fosse pela crise política, que segurou o mercado acionário em torno de 24 mil pontos. Na avaliação dele, a expectativa é que a Bolsa continue em terreno positivo, mas pode haver realização de lucros no meio de caminho.

Abate ressalva que os bons resultados do mercado acionário não são privilégio apenas do Brasil, mas de boa parte dos países emergentes. A busca por melhor rentabilidade é grande, especialmente se comparado aos juros americanos de longo prazo, na casa de 4,25%.

Além disso, as ações brasileiras ainda estão baratas, afirma Serwaczak. Segundo ele, o número de investidores interessados em papéis de países emergentes tem se intensificado. Na última conferência feita neste mês pelo banco, o número de participantes subiu de 300, em 2004, para cerca de 500.

Entre os setores mais procurados pelos estrangeiros estão petróleo, bancos e mineração. "Os mais atrativos são aqueles ligados a commodities associadas ao crescimento global, como os exportadores", afirma Maia.