Título: O crédito que pouco ajuda
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Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Economia & Negócios, p. B2

Ao divulgar ontem o relatório sobre Política Monetária referente ao mês de agosto, o Banco Central informou que o volume total de créditos alcançou R$ 541,217 bilhões: R$ 317,365 em recursos livres e R$ 185,566 em recursos direcionados, num total de R$ 521,10 bilhões ao setor privado (incluindo R$ 18,188 bilhões em leasing), mais R$ 20,098 bilhões em operações com o setor público. Uma observação que não pode deixar de ser feita é sobre a baixa participação do leasing no total do crédito - menos de 3,5% em agosto. Não há nada de surpreendente: as causas são conhecidas dos operadores do mercado financeiro e envolvem não só o arcabouço jurídico um tanto desfavorável com que essa modalidade de negócio foi sempre tratada, como algumas peculiaridades fiscais e financeiras típicas do Brasil, que também a prejudicam. De qualquer forma é lamentável, pois em muitos países e, particularmente nos EUA, o leasing é não só um cômodo instrumento a serviço do consumidor pessoa física, como é uma poderosa alavanca para a abertura de novas empresas.

Outra peculiaridade com causas também conhecidas, freqüentemente comentada nesta coluna, é a baixa relação crédito/PIB, que no mês de agosto ficou em 28,7%, ante 28,3% em julho e 25,4% em agosto do ano passado. Até se pode dizer que neste ano houve uma melhora "substancial", da ordem de 3,3 pontos porcentuais (pp), uma vez que, em todo o ano passado, essa relação subiu apenas 0,4 pp. Todavia, a participação está muito aquém do que se verifica em outros países, mesmo os comparáveis ao Brasil. Além disso, a melhoria se deveu, basicamente, à expansão do crédito consignado e do financiamento para aquisição de automóveis. Não sugere que esteja havendo mudança estrutural que possa levar a um uso mais intensivo do crédito na economia brasileira.

Isso também se deve lamentar, uma vez que é bastante conhecida, e perfeitamente demonstrável, a influência positiva do aumento do crédito no crescimento do PIB, no fortalecimento do sistema econômico - pela disseminação e maior dispersão das atividades - e na criação de empregos.

No que se refere às atividades econômicas empresariais, a indústria foi o setor mais bem irrigado pelo crédito, com R$ 132,72 bilhões do total, seguida pelo comércio, com R$ 59,43 bilhões, pelo setor rural, com R$ 55,58 bilhões, e pelo setor habitacional, com R$ 27,22 bilhões. Esta é uma atividade onde o volume de crédito tem aumentado muito lentamente e teria capacidade para absorver muito mais, com proveito para a economia, dada a sua rápida resposta em termos de geração de empregos e de encomendas às atividades fornecedoras.