Título: Cai juro do crédito consignado
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/09/2005, Economia & Negócios, p. B4

A taxa de juros cobrada em agosto nas operações de empréstimo com desconto em folha de pagamento, o chamado crédito consignado, foi a menor desde o lançamento do programa, em 2004. Pelos dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC) os tomadores desse tipo de empréstimo pagaram 36,6% ao ano, em média, no mês passado, ante 36,8% em julho. Os juros do crédito consignado só não são menores que os do financiamento de veículos que, em agosto, ficaram em 35,7% ao ano. Enquanto caíram as taxas para essas duas modalidade de empréstimo, que têm como garantia o próprio bem ou o salário, subiram as taxas de juros dos financiamentos sem garantias reais.

É o caso do crédito pessoal, cuja taxa de juros passou de 76,6% ao ano em julho para 77,1% em agosto. Também aumentou o juro do cheque especial, que passou de 148% em julho para 148,5% em agosto. Essa é, aliás, a maior taxa para o cheque especial desde setembro de 2003, quando a taxa bateu em 152,2%.

Segundo o chefe do departamento Econômico do Banco Central (Depec), Altamir Lopes, pressionadas pelo pagamento das contas das férias de julho e pelo Dia dos Pais, as pessoas demandaram mais crédito em agosto.

O volume de crédito cresceu praticamente em todas as modalidades de operações. Isso fez com que o chamado crédito livre, ou seja, sem direcionamento obrigatório pelas instituições financeiras, aumentasse 1,6% e atingisse R$ 317,4 bilhões, o nível mais elevado da série, que começou a ser computada pelo BC em 2000. O valor correspondeu a 16,8% do Produto Interno Bruto (PIB).

Considerando todas as formas de crédito, inclusive as direcionadas, o saldo em agosto aumentou 1,5% e chegou a R$ 541,2 bilhões, o correspondente a 28,7% do PIB, estabelecendo uma nova marca. Em agosto do ano passado, o volume total de crédito do sistema financeiro correspondia a 25,4% do PIB.

Na composição do crédito livre, o que mais cresceu foi o financiamento contratado pelas pessoas físicas, que passou de R$ 140,3 bilhões para R$ 145 bilhões de julho para agosto, com elevação de 3,4%. Também aumentaram, num porcentual pequeno, as operações com pessoas jurídicas, que passaram de R$ 172,09 bilhões para R$ 172,38 bilhões.

Nas operações feitas pelas empresas, o maior volume de crédito está concentrado nos empréstimos para capital de giro, que atingiram R$ 46,34 bilhões em agosto com crescimento de 1,9% em relação a julho. A taxa de juros nesse tipo de financiamento subiu 0,8 ponto porcentual de um mês para o outro, alcançando 38,8% ao ano.

SPREAD MAIOR

Com tanta gente buscando crédito, os bancos aproveitaram para aumentar sua margem de lucro. O spread, que é diferença entre a taxa que o banco paga para captar o dinheiro e a taxa que ele cobra para emprestar, subiu. No geral, o spread ficou em 30,2% (alta de 0,4 ponto porcentual). A puxada no spread, segundo Lopes, não se justifica pela elevação da inadimplência, que permanece estável. Houve, portanto, aumento da margem de lucro dos bancos.

Além de mais dinheiro disponível na praça, mesmo que com juros maiores em algumas operações, os clientes bancários estão se beneficiando de prazos maiores para quitar seus compromissos. O prazo médio de 312 dias, por exemplo, para o pagamento do crédito pessoal contraído é o mais elevado da série estatística registrada pelo BC.