Título: CBF não pára o Brasileiro
Autor: Robson Morelli
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Esportes, p. E5

A Confederação Brasileira de Futebol não vê motivos para a interrupção do Campeonato Brasileiro por causa do escândalo da arbitragem denunciado neste fim de semana pela revista Veja. Mesmo com a prisão e confissão do árbitro Edilson Pereira de Carvalho (ver reportagem abaixo). A entidade, no entanto, dará total autonomia à comissão que será criada até terça-feira para apurar o caso e acatará qualquer decisão da Justiça esportiva. O Ministério Público Federal (MPF) acompanhará as investigações. Edilson e o também árbitro Paulo José Danelon - ainda procurado pela Polícia Federal (PF) -, acusados de manipular resultados em jogos da temporada, devem ser banidos do futebol.

Edilson e Paulo José, pivôs do esquema, serão denunciados ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) com base no artigo 241 ou 275 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), cujas penas prevêem a exclusão do futebol. O presidente do STJD, Luiz Zveiter, dará uma coletiva hoje, às 11 horas, na casa dele, em Niterói.

O tribunal também vai abrir inquérito disciplinar para apurar se houve influência da arbitragem no resultado dos 11 jogos apitados por Edilson no Brasileiro de 2005. Auditores do STJD ouvidos pelo Estado não souberam ou não quiseram falar sobre a hipótese de paralisação do campeonato.

A denúncia, comprovada a partir de 20 mil horas de grampos telefônicos feitos pela Polícia Federal desde outubro, mostra a suposta participação direta de Edilson e de Paulo José na manipulação de resultados do Brasileiro e do Paulista de 2005. Eles estariam ligados a um grupo de apostadores liderado pelo empresário Nagib Fayad (ver matéria na pág. 6) donos de bingos em São Paulo e Piracicaba, que desde o início do ano estariam fraudando resultados para lucrar com apostas nos sites ilegais Aebet e Futbet. Edilson já está preso em operação da Polícia Federal, desde a manhã de ontem.

INDIGNAÇÃO

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, reagiu com indignação quando soube das supostas fraudes no esquema da arbitragem. Ele defende que o caso seja apurado com rigor, mas acha que a credibilidade do Campeonato Brasileiro não pode ser arranhada por causa do desvio de apenas um árbitro. A todo o instante o dirigente é informado pela Assessoria de Imprensa da CBF a respeito dos desdobramentos da denúncia.

A CBF, em seu site, anunciou na noite de sexta-feira que Edilson e Paulo José estão afastados do Quadro Nacional de Arbitragem. Ricardo Teixeira vai pedir amanhã à Fifa que afaste Edilson.

Embora a CBF prefira a cautela, sabe-se que a situação do presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da entidade, Armando Marques, complicouse com o escândalo. Há a expectativa de que Armando conceda entrevista coletiva no início da semana para falar sobre a conduta de Edilson e a relação da comissão com os árbitros. 'O Armando sempre evita críticas aos árbitros. Agora a bola está com ele', disse Juvenal Juvêncio, diretor do São Paulo.