Título: Município de apenas 12 anos teve toda a madeira extraída
Autor: Rosa Bastos
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Metrópole, p. C1

Cidade ainda adolescente, Goianésia do Pará, a 360 quilômetros de Belém, tem só 12 anos de emancipada. Um dos fundadores e segundo prefeito, Hortênsio Alves dos Santos, deu-lhe o nome em homenagem ao município onde nasceu, Goianésia, em Goiás. Como uma Serra Pelada, o lugar recebeu pessoas de todo o Brasil para trabalhar na extração da madeira, o ouro de lá. Tiraram quase tudo. Ficaram só mangueiras e cajueiros. Nesta época, a vegetação rala está pontilhada de acácias imperiais em flor. Cachos amarelos pintam a paisagem árida, desmatada, queimada. Não faz muito tempo, a PA-150 era uma linha entre paredões de árvores altíssimas. Em grandes áreas, hoje, há plantações de dendê.

De vez em quando, um povoado. Ou uma cidade - como Tailândia, a 100 km, até bacaninha comparada a Goianésia.

Buracos e lombadas altas, (mal) feitas de propósito ou por conta do uso intenso, atazanam o motorista e arrebentam cárteres e pneus. Tiradas as árvores, a terra fica exposta. Vermelha, solta, uma devastação de perder de vista, aquele poeirão. Às margens da estrada, serrarias e madeireiras com pilhas de troncos de 10, 12 metros de comprimento por até 1 de diâmetro.

Tão grossos que cinco árvores já enchem um caminhão. E montanhas de pó de serragem. Nas casas de madeira com piso de cimento de Goianésia, as cortinas costumam ser estampadas e não ficam nas janelas. Cobrem paredes como um enfeite para a falta de pintura. Guirlandas de flores de pano completam a decoração. Algumas casas têm varanda, para o necessário refresco: dificilmente faz menos de 30 graus. Com ou sem varanda, quando a tarde cai, todo mundo senta na porta para prosear e jogar dominó.

É raro achar um paraense. Só crianças pequenas. A população é formada principalmente por maranhenses, capixabas, cearenses e baianos. O delegado de Polícia do Interior do Pará, Waldir Freire, culpa os forasteiros pelos conflitos. A 'falta de cultura própria', segundo ele, justifica em parte o pouco caso das pessoas pela cidade, a ponto de quebrar equipamentos públicos. 'Não nasceram aqui, não têm amor. Quando a madeira acabar, vão embora.' Para o delegado, a onda de estupro em Goianésia é o maior exemplo da desagregação social. 'Se a sociedade é bem estruturada e todos se conhecem, não se sai por aí estuprando a filha do vizinho. Mas, como não conhecem, estupram quem aparece na frente.'