Título: Dólar e juros não impedem projetos
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

O câmbio valorizado e os altos juros são preocupações para as empresas envolvidas no boom de investimentos em insumos básicos, mas até agora não pesaram o suficiente para interromper os projetos. Luiz Carlos Loureiro, diretor de Vendas da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), do Grupo Votorantim, diz que 'hoje o câmbio excepcionalmente apreciado reduz a rentabilidade das exportação de alguns produtos, mas não se pode parar de investir e a CBA tem que honrar seus compromissos'.

A CBA, na verdade, está investindo pesado, em um programa de US$ 1 bilhão, que está praticamente dobrando a produção de alumínio de 240 mil toneladas anuais, em 2002, para 470 mil até o segundo semestre de 2007. Este total inclui os investimentos diretamente na duplicação e também projetos complementares, como o aumento da produção de bauxita em Minas e a laminação na unidade de alumínio primário na cidade de Alumínio, a 75 quilômetros do município de São Paulo. 'Somos a maior planta integrada de alumínio do mundo', diz Loureiro. Com isso ele quer dizer que a unidade, que recebe cem vagões de bauxita por dia, fabrica tanto os produtos fundidos, como tarugos, lingotes e vergalhões, como os transformados - chapas, bobinas, perfis, embalagens e cabos.

No setor petroquímico, a Brasken, com um carteira de projetos de US$ 1,5 bilhão, encara a combinação de juros altos e câmbio valorizado com relativa tranqüilidade. Segundo Alexandrino de Alencar, vice-presidente de Relações Institucionais da Brasken, a empresa, que tem receita líquida anual de R$ 14 bilhões e produz 1,5 milhão de toneladas de resinas, tem pouca sensibilidade a câmbio, porque está numa cadeia produtiva dolarizada. Além disso, a Brasken vende 80% da sua produção no mercado interno.

Mas mesmo na Cia. Siderúrgica Tubarão (CST), no Espírito Santo, que exporta mais da metade da sua produção de 5 milhões de toneladas anuais de placas de aço, a questão do câmbio não é tão importante. Benjamin Baptista Filho, diretor comercial da CST, diz que a empresa 'tem um hedge natural, o que acontece em maior ou menor grau com todas as outras siderúrgicas brasileiras'. O 'hedge' é um mecanismo de defesa contra as flutuações do câmbio. No caso da CST e outras siderúrgicas, segundo Baptista Filho, ele vem do fato de que o preço do minério de ferro é dolarizado, assim como o carvão, que é 100% importado. Assim, custos e preços flutuam juntos. A CST investe US$ 1 bilhão para elevar a produção anual para 7,5 milhões de toneladas, projeto que deve ser concluído no terceiro trimestre de 2006.

Em 2002, a empresa iniciou a operação de um laminador de tiras a quente, para produzir bobinas para o mercado interno. Com o investimento, ela quer repor as 2 milhões de toneladas de placas para exportação desviadas para o laminador.

Na área petroquímica, o maior projeto de investimento em gestação é a instalação de uma refinaria dedicada apenas a produtos petroquímicos, polietileno e polipropileno, usando o petróleo pesado do campo de Marlim. É um projeto de R$ 10 bilhões, que por enquanto envolve Petrobrás, Grupo Ultra e BNDES, e cuja área de instalação no Estado do Rio ainda é motivo de disputa. Outro projeto importante é a Rio Polímeros, o recém-inaugurado pólo gasoquímico ao lado da refinaria Duque de Caxias (Reduc), na Grande Rio, no qual goram investidos R$ 2,6 bilhões. Em celulose, alguns dos maiores projetos são a expansão da Bahia Sul (R$ 4 bilhões) e o projeto da International Paper de uma nova fábrica no Mato Grosso do Sul, um investimento de R$ 3,5 bilhões.