Título: Projetos de insumos somam R$ 70 bi
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. B1

Nas asas da aquecida demanda global, que está empinando o preço das commodities, matérias-primas e produtos semielaborados, o Brasil vive um boom de investimentos em insumos básicos. Levantamento feito com dados de projetos já aprovados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e apuração do Estado no mercado mostra que, até 2011, o País vai investir mais de R$ 70 bilhões em projetos de mineração, siderurgia, metalurgia, cimento, química, petroquímica e papel e celulose. O superintendente de insumos básicos do BNDES, Wagner Bittencourt, explica que os investimentos nesses setores têm característica cíclica. No momento, com o aquecimento da economia mundial, puxado pela demanda explosiva da China e de outros países asiáticos, os preços estão em alta, o que faz com que os investimentos nos insumos básicos estejam na fase alta do ciclo. O preço médio do aço na China, por exemplo, subiu de cerca de US$ 350 por tonelada no início de 2002 para mais de US$ 650 em meados de 2005. O preço da tonelada de celulose, que estava pouco acima de US$ 400 a tonelada no início de 2002, hoje está em US$ 580.

No Brasil, o ciclo de alta coincidiu com a fase boa das empresas, que nas últimas décadas, em setores como celulose e siderurgia, entraram para o seleto grupo das mais competitivas do mundo. 'As empresas estão capitalizadas e em condições de investir', diz Bittencourt.

O levantamento do Estado, incluindo as operações já aprovadas do BNDES, chegou a R$ 68 bilhões, mas não inclui diversas possibilidades de investimento em insumos básicos que estão embrionárias. Investimentos que estão sendo avaliados, mas com boa possibilidade de se concretizar, foram contabilizados. Desse total, R$ 32 bilhões são projetos de mineração , siderurgia (principalmente), metalurgia e cimento. O BNDES pode financiar até R$ 10 bilhões. No segmento de química e petroquímica, os investimentos programados ou em avaliação chegam a R$ 17 bilhões, com chance de o BNDES financiar até R$ 6 bilhões. E em papel e celulose, há projetos de R$ 18 bilhões, nos quais o BNDES pode entrar com até R$ 9 bilhões.

Na siderurgia, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) tem algumas possibilidades em pauta. No momento, avalia a melhor estratégia na escolha de projetos. Uma opção é construir a Usina 2 em Itaguaí, no Estado do Rio, para produzir 5 milhões de toneladas anuais de placas para exportação. O custo total do projeto está na casa de R$ 6,7 bilhões.

Fontes do mercado financeiro indicam que o BNDES poderia financiar até pouco mais da metade. A CSN ainda não se decidiu, porém, entre esse projeto e o de construção de um novo alto-forno em Volta Redonda. A empresa também pode investir mais R$ 1,8 bilhão na mina Casa de Pedra e em um terminal de exportação de minério em Sepetiba, dependendo da solução do processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) sobre os acordos entre a empresa e a Vale do Rio Doce.

Outro projeto de peso é o da Companhia Siderúrgica do Atlântico, no Rio, a ser montado pela ThyssenKrupp, cujos investimentos chega a R$ 5,5 bilhões. E na última sexta-feira a multinacional Alcoa anunciou investimento de US$ 1,6 bilhão nos próximos três anos.