Título: Economia mundial cresce distorcida
Autor: Alberto Tamer
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. B3

Nada de novo no front da economia mundial, que vai crescer 4,3%, conclui o estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI), reunido, agora, em Washington. Uma constatação antiga para problemas antigos, mas cheia de preocupação com o futuro. Os EUA, 3,6%, e a China, 9%, sustentam mais uma vez essa expansão que a cada ano fica mais desequilibrada. São problemas simples de se diagnosticar, mas difíceis de enfrentar: os déficits americanos, que, somados, passam de US$ 1 trilhão, financiados pelos países do Leste Asiático, principalmente China e Japão. Nada mudou nos últimos 12 meses, além de uma ainda leve desaceleração, mas os desafios se tornam cada vez mais candentes, exigindo rápidas medidas que ninguém se dispõe a tomar.

Os EUA continuam consumindo e se endividando, num processo que se inicia no consumidor, que compra e se endivida sempre mais e transfere para o governo a dívida comercial. E aí começa tudo de novo, num círculo difícil de quebrar porque exige, acima de tudo, decisão política.

A China cada ano exporta mais com o estímulo do yuan desvalorizado e do baixo custo de obra operária. A Europa, politicamente atordoada, alarga seu horizonte para o Leste Europeu e não sabe o que fazer para aumentar o consumo.

Resumindo, os americanos não são consumidores conscienciosos, o governo ainda menos; a China só vê o curto prazo e teme medidas que acendam pressões políticas da juventude empregada e dos 800 milhões de ociosos que o governo ainda consegue manter fora dos centros industriais; a Europa estagna, os governos gastam mais e aumentam seus déficits para manter uma generosa política social do passado que oferece tudo, menos emprego.

O FMI veio de novo com a clássica receita, que o leitor desta coluna conhece de cor: 1 - Nos EUA, redução do déficit público com despesa menor e arrecadação maior. 2 - Na Europa, reformas da legislação trabalhista e câmbio menos valorizado. 3 - No Japão, abertura comercial e, na China, maior flexiblidade da moeda, o yuan. O diagnóstico e a receita são do economista-chefe do FMI, Rhaguram Rajan, ao comentar o estudo sobre a 'Perspectiva para a economia mundial'. Tudo o mais viria por si. É só começar, mas ninguém começa nada. Cita-se apenas na constatação enfadonha dos mesmos problemas e as mesmas soluções, como aconteceu na reunião dos ministros da Economia do G-7 na sexta-feira em Washington. Palavras, não mais do que isso.

Nos EUA, os furacões Katrina e Rita proporcionaram ao secretário do Tesouro, John Snow, uma desculpa para continuar com os déficits. 'Pelo menos por enquanto, a prioridade na agenda nacional é recuperar as áreas atingidas e criar milhões de empregos.' O governo vai manter sua política de redução dos impostos iniciada há quatro anos. E os déficits? Continuará agindo para reduzilo gradualmente, mas condicionado agora à nova prioridade. Se precisar gastar mais do que pode, vai gastar.

DESAFIOS, ONDE? E os dois outros parceiros de crescimentos dos EUA, a União Européia e a China, mais os países do Leste Asiático? O cenário de 'acomodação' é o mesmo. A Europa não avançou nas reformas internas, está politicamente mais desorientada do que nunca e os países asiáticos cuidam apenas dos seus problemas internos, avançando furiosamente no mercado mundial e deixando para tratar mais adiante dos desequilíbrios no crescimento mundial, que, parece, não os preocupa. Para eles, tudo bem. Afinal, a China cresce 9% ao ano, a Indonésia, 5,5 %, Cingapura, 5,2%. Os outros, como Coréia do Sul, Taiwan, Tailândia, ficam entre 3% e 4%, muito abaixo dos gloriosos 10% do passado. Querem crescer e vão fazê-lo com o único mercado de que dispõem, o mundial. Afinal, não são os asiáticos que estão salvando o mundo? Os países citados acumulam reservas cambiais de US$ 1,5 trilhão. Acrescentado o Japão, já chega a US$ 2 trilhões! Muito? Sim, mas ainda pouco para que possam continuar financiando os déficits americanos. CÂMBIO FÁCIL Está sendo lançado pela Editora Saraiva (saraiva.com) o livro Câmbio$ - Princípios Básicos do Mercado Cambial (344 páginas, R$ 59), de Emilio Garofalo Filho, um especialista no tema muito respeitado. É, na verdade, um manual em que o autor, ex-diretor do Banco Central, consegue fugir do economês e apresenta o tema de forma claríssima e inteligível a iniciantes, estudantes, em suma, para não especialistas, porém interessados no assunto. Já na introdução o autor afirma: 'Se hoje o mercado brasileiro de câmbio lhe parece confuso, preocupe-se: ele é, na verdade, muito confuso.' Mas Garofalo consegue, com êxito, 'descomplicar'. Com estilo intencionalmente simples, ele destrincha de forma didática o bicho-papão do câmbio. Uma das grandes vantagens do manual é estar atualizado até o fim do primeiro semestre deste ano. Contém, ainda, uma 'tabela de moedas de todo o mundo' e uma introdução ao Balanço de Pagamentos.