Título: No Madeira, embarque de carros a carne
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/09/2005, Economia & Negócios, p. B6

A lista de produtos embarcados em Porto Velho (RO) em direção a Manaus é extensa. Além do grande embarque de soja, as barcaças que cortam por oito dias o Rio Madeira levam madeira, açúcar, carne, produtos perecíveis e até tubos de aço. A construção do gasoduto que interligará Coari a Manaus está sendo possível graças ao transporte dos tubos pelo Madeira. Segundo a administração do porto, por mês embarcam ainda 450 caminhões cegonheiros carregando automóveis vendidos em Manaus. A diretora do porto na capital de Rondônia, Leandra Vivian, explicou que diversas empresas estão na mesma situação do Grupo André Maggi. "As balsas estão saindo com apenas 40% da carga, e mesmo assim correm o risco de encalhar em algum trecho da hidrovia. O comandante da embarcação precisa conhecer muito bem o canal navegável para não encalhar num banco de areia", informou Leandra.

O comandante do barco Itacoatiara VII, Omar Taborda do Nascimento, explicou que a viagem entre Manaus e Porto Velho geralmente demora cerca de 8 dias. Nas atuais condições está durando 14. Isso porque é impossível viajar à noite com o nível do rio tão baixo. Além disso, de dia é preciso seguir devagar. Mesmo com esses cuidados, Nascimento enfrentou recentemente um problema na hidrovia quando bateu o casco da embarcação em pedras no leito do rio. A balsa transportava 24 mil sacos de cimento.

A embarcação de Nascimento só não afundou porque contou com a ajuda do garimpeiro Francisco Leite do Amaral. A bomba de sucção, usada na mineração de ouro, adaptada para retirar areia do leito do rio, serviu para puxar a água que invadiu um dos compartimentos de ar da embarcação que a mantém flutuando. "Foi desta forma que consegui chegar a Porto Velho", lembra Nacimento.

APOIO

Quando chegam a lugares onde a navegação se torna perigosa, os comandantes geralmente contratam práticos para que indiquem o local exato do canal de navegação. Práticos são profissionais que trabalham em portos ou em vias navegáveis. A função é auxiliar a atracação e desatracação de embarcações.

Na Hidrovia do Madeira, pessoas das comunidades ribeirinhas normalmente são contratados no período de seca para ajudarem a indicar onde está o canal de navegação.

O diretor administrativo e financeiro do porto, Johnny Ávila, disse que a previsão é de que neste ano, apesar da seca no Rio Madeira, passarão pelo terminal 2,44 milhões de toneladas de soja.

Apesar de as embarcações terem que reduzir a 40% a quantidade de carga transportada, mesmo com a crise, ainda é muito mais barato utilizar a hidrovia do Madeira do que seguir para os portos marítimos de Santos (SP) e Paranaguá (PR).

No caso da madeira retirada de Ariquemes, a 200 quilômetros de Porto Velho, por exemplo, os exportadores precisariam pagar frete rodoviário de aproximadamente R$ 190 a tonelada para chegar a Paranaguá, em um percurso maior do que 3 mil quilômetros. Para Porto Velho o valor cai para R$ 5 a tonelada. "Além disso, temos a menor tarifa portuária do Brasil. Pela ocupação da acostagem cobramos R$ 0,55. Para embarcar mercadorias varia um pouco. No caso da soja custa R$ 1,38 a tonelada. Por aí, podemos ver que compensa usar a hidrovia do Madeira, apesar das dificuldades", disse Ávila.