Título: Planalto joga tudo contra afilhado de Severino
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem o deputado Luiz Antônio Fleury Filho (PTB-SP) para uma conversa reservada, no Palácio do Planalto, e fez a ele um pedido inusitado: que não retire sua candidatura à presidência da Câmara. Diante do ar de indagação de Fleury, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner, tratou de explicar a estratégia governista, que consiste em mantê-lo no páreo no primeiro turno para dividir o baixo clero e tirar votos de Ciro Nogueira (PP-PI). Para o Planalto, o pior dos mundos seria o candidato Aldo Rebelo (PC do B-SP) enfrentar Ciro numa segunda rodada da eleição. "A vingança do baixo clero está rondando a Câmara", resumiu um interlocutor do presidente. Na avaliação do governo, Aldo corre risco de perder a disputa se tiver de enfrentar Nogueira - herdeiro do ex-presidente da Câmara, Severino Cavalcanti.

Pelas contas do Planalto, haverá segundo turno e, portanto, toda a tática foi montada para que o adversário de Aldo seja José Thomaz Nonô (PFL-AL). Lula pediu a Fleury que mantenha a candidatura e apóie Aldo num eventual segundo turno. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia - que é do PTB -, testemunhou a conversa.

"Eu não iria desistir mesmo", amenizou Fleury. "Fui logo avisando que minha candidatura era irreversível." Ao PTB o Planalto acenou com a possibilidade de manter todos cargos controlados pelo partido em estatais. Desde que o ex-deputado Roberto Jefferson tornou-se algoz do governo - provocando a crise do mensalão -, a sigla vinha sendo pressionada a entregar os cargos.

A eleição de Aldo é considerada fundamental pelo governo para reverter a instabilidade política. Um ministro resumiu da seguinte forma a disputa: "Se perdermos de novo, a crise se agrava." Na prática, desde que o governo perdeu o comando da Câmara para Severino, em fevereiro, não teve mais sossego. Foi obrigado a engolir três CPIs - Correios, Mensalão e Bingos -, viu-se acuado diante de acusações, que levaram à demissão do ministro da Casa Civil, José Dirceu, e teve a maioria de seus líderes na Câmara envolvidos nas denúncias.

Lula conta com a vitória para virar a página da crise e criar o que chama de "onda", jogando o governo para a frente. A pressão pró-Aldo, no entanto, não garante a vitória. Nonô tem o apoio do PFL e do PSDB, além do PDT, PPS e PV. Para garantir o voto nele, os governadores tucanos Cássio Cunha Lima (Paraíba), Geraldo Alckmin (São Paulo) e Marconi Perillo (Goiás) despacharam de volta para a Câmara deputados que ocupam secretarias nos Estados.

RITUAL: A sessão que elegerá o novo presidente da Câmara começa hoje às 10 horas. Mas a votação - secreta, em cédulas de papel - somente terá início quando o painel eletrônico marcar a presença de 257 deputados no plenário. Será feito, então, o sorteio da ordem dos discursos dos 10 candidatos. Cada um terá direito a 15 minutos.

A Mesa Diretora calcula que o primeiro turno da votação será encerrado entre 15 horas e 16 horas, seguido pela apuração. O segundo turno - se houver, e tudo indica que haverá - deve ter início às 18 horas e terminar por volta das 22 horas.

Desta vez, a direção da Câmara quer evitar que a votação se estenda pela madrugada, como ocorreu na eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE). Em 14 de fevereiro, o primeiro turno terminou às 2h19. O segundo turno só acabou às 6h30.

A Secretaria-Geral mandou imprimir 5 mil cédulas para cada um dos 10 candidatos e 513 envelopes azuis (o número exato de deputados), onde os votos serão depositados. Durante toda a votação, haverá uma cabine do lado esquerdo e outra do lado direito do plenário. Os deputados são divididos em duas turmas, por Estados .