Título: Lula promete mais R$ 1 bilhão e cargos para eleger Aldo
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/09/2005, Nacional, p. A4

O governo pôs ontem à disposição do candidato do Palácio do Planalto à presidência da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), toda a artilharia pesada de que dispõe. Para vencer a eleição, que começa às 10 horas de hoje, prometeu liberar R$ 1 bilhão para o Ministério dos Transportes - depois de ameaçar tomar a pasta do PL - e anunciou ao PTB que devolverá postos importantes retirados depois da crise gerada pelas denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ). Com isso, ganhou o apoio do PL, já no primeiro turno da disputa, em negociação direta com o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, e garantiu a ajuda do PTB no segundo. "Estou pronto para a briga", avisou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao receber ontem um quimono de presente, no Planalto. A afirmação, diante de um grupo de judocas que ganhou medalha de ouro no campeonato mundial realizado há duas semanas no Cairo, Egito, foi interpretada como referência à eleição que definirá o sucessor do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE).

Depois de se referir à briga, Lula arrancou gargalhadas dos atletas trocando as palavras "tatame" por "tapume": "Estou pronto para entrar no tapume."

Para garantir a ida de Aldo para o segundo turno, o Planalto mandou cinco ministros para o Congresso. Deram expediente os titulares da Saúde, Saraiva Felipe, das Comunicações, Hélio Costa, do Turismo, Walfrido Mares Guia, do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Previdência, Nelson Machado.

Um presidente da Câmara aliado ao governo representa a certeza de que medidas provisórias não serão devolvidas e projetos de interesse do Planalto vão ser incluídos na ordem do dia. Além disso, pode assegurar maior controle sobre relatores de comissões e sobre CPIs.

Correu ontem a informação de que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, telefonaria a Michel Temer (SP), candidato do PMDB, para lhe oferecer uma vaga na Corte em troca da sua desistência. Temer ironizou: disse que já tem um aluno no STF, o ministro Ayres Brito.

PROPINA

A sucessão de Severino - que renunciou na semana passada, depois de ser acusado de cobrar propina do empresário Sebastião Buani - é a mais disputada eleição da história da Câmara. Também a primeira por causa da desistência do titular.

Concorrem 10 candidatos: Alceu Collares (PDT-RS), Aldo Rebelo, Ciro Nogueira (PP-PI), Francisco Dornelles (PP-RJ), Jair Bolsonaro (PP-RJ), João Caldas (PL-AL), José Thomaz Nonô (PFL-AL), Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), Temer e Vanderlei Assis (PP-SP).

Destes, teriam chances de ir para o segundo turno apenas Aldo, Nonô e Nogueira. Este último é o candidato de Severino, que passou o dia ao telefone, pedindo votos para seu pupilo. Nogueira pode surpreender, agregando os votos do baixo clero.

"Dessa vez o governo não está cometendo os erros da eleição passada. Não tenho dúvidas de que o candidato Alto Rebelo já está no segundo turno", comentou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), um ferrenho adversário do Palácio do Planalto.

Para a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS), ao pressionar PL, PP e PTB, o governo do presidente Lula "reeditou a coligação do mensalão".